No 1º Congresso de Medicina Felina GIEFEL (APMVEAC), que decorreu entre os dias 8 e 9 de outubro em Lisboa, Cristina Seruca, Especialista Europeia em Oftalmologia Veterinária, Diplomada pelo Colégio Europeu de Oftalmologistas Veterinários, abordou o exame oftalmológico, as doenças da conjuntiva e córnea e ainda as patologias da úvea e retina. À margem do evento, a única especialista europeia em Oftalmologia Veterinária a trabalhar em Portugal falou com a VETERINÁRIA ATUAL e salientou que a querato-conjuntivite por herpes vírus felino tipo 1 é uma patologia que encerra vários desafios e que, como não tem cura, é “muitas vezes frustrante para os médicos veterinários e para os donos”.
Quais os principais desafios da oftalmologia felina para os médicos veterinários?
Há muitos desafios na oftalmologia felina, mas penso que o mais comum é a querato-conjuntivite por herpes vírus felino tipo 1. É uma patologia muito comum e provavelmente a maior causa de cegueira de gatos de rua. Estima-se que 90% dos gatos entram em contacto com o vírus ao longo da vida e que 80% dos gatos infetados permanecem com infeção latente, tendo episódios de recrudescência da doença associados ao stress, imunossupressão ou tratamento sistémico ou tópico com corticosteroides. É uma doença que não tem cura sendo, por isso, muitas vezes frustrante para os médicos veterinários e para os donos.
O que aconselha em termos do tratamento da conjuntivite felina por herpes vírus?
A eleição do tratamento depende de uma série de fatores. Nomeadamente se se trata de uma infeção primária ou episódio recrudescente, a idade do animal, suspeita de infeção bacteriana concomitante, envolvimento corneano, início de simbefaro, etc. As opções de tratamento e respetivas indicações foram, precisamente, abordadas na palestra de patologias da córnea e conjuntiva durante o congresso.
Qual foi o caso mais marcante/desafiante?
Talvez o caso mais desafiante tenha sido o de um gato jovem abandonado que me foi referenciado por avulsão traumática completa da pálpebra superior e da metade lateral da pálpebra inferior. A lesão era muita extensa, o gato tinha muita dor e estava em risco de perder o globo ocular por exposição. Foi feita uma reconstrução através da técnica ‘lip-to-lid’ modificada, por transposição do lábio superior, comissura labial, e lábio inferior. A cirurgia foi longa e complexa, mas fiquei muito contente com o resultado funcional e estético. O gato pouco tempo depois foi adotado.
Dentro dos felinos lembro-me ainda de um caso de um tigre branco do Jardim Zoológico de Lisboa que acompanhei desde recém-nascido até à idade jovem, por ter estrabismo convergente congénito. Esse caso marcou-me porque é uma doença rara em gatos que está descrita em siameses. Diagnosticar pela primeira vez a patologia numa espécie selvagem e poder acompanhar a evolução num tigre branco desde bebé foi sem dúvida fascinante.