A pergunta estava lançada: como é que o mastim tibetano, uma raça canina que chega a atingir cem quilos de peso e que é utilizada para proteger rebanhos de ovelhas de lobos e outros predadores dos Himalaias, consegue viver a mais de quatro mil metros acima do nível do mar, a uma altitude que nenhuma outra raça sobrevive?
Uma equipa de investigadores internacionais, composta por cientistas da Universidade de Nebraska-Lincoln, que trabalharam lado a lado com investigadores da Universidade de Qinghai, na China, perceberam que a chave deste mistério estava no cruzamento destes cães com o lobo tibetano ao longo dos anos, o que lhes permitiu desenvolver uma ‘super-hemoglobina’ que capta e liberta oxigénio cerca de 50% mais eficientemente do que a de outras raças de cães.
Esta era já uma conclusão de investigações anteriores, que sugeriam que o lobo tibetano se havia adaptado à altitude graças a um desenvolvimento mais eficaz da hemoglobina, a proteína que capta oxigénio para a corrente sanguínea e a distribui pelos órgãos do corpo.
O que o novo estudo percebeu foi a composição desta hemoglobina, esclarecendo porque é que o mastim tibetano, tal como o seu companheiro lobo, não tem problemas em viver nas alturas.
Tony Signore, um dos responsáveis da pesquisa, afirma ter chegado a esta conclusão depois de comparar a hemoglobina do mastim tibetano com outras raças de cães, incluindo o Irish Wolfhound, que se diz também ser descendente do lobo tibetano. “Em altitude, o problema é conseguir oxigénio, porque existe em menor quantidade”, assinalou o investigador, citado pela Animal’s Health. “Se pensarmos na hemoglobina como um íman de oxigénio, este íman é mais forte”, explicou.
Os cientistas das universidades de Qinghai e Nebraska já sabiam que esta ‘super-hemoglobina’ do mastim tibetano tinha mutações em dois aminoácidos, uma alteração que também está presente na hemoglobina dos lobos, mas ausente nas outras raças de cães.
Estudaram então as hemoglobinas que continham as duas mutações de aminoácidos e descobriram que ambas são igualmente importantes para o alto rendimento da hemoglobina. Se uma destas não estivesse presente, a hemoglobina funcionava como em qualquer outra raça canina.
“Não há evidência direta que documente que estas duas mutações únicas têm algum efeito fisiológico benéfico que provavelmente seja adaptativo à grande altitude”, disse Jay Storz, professor de ciências biológicas e outro dos autores do estudo à publicação espanhola. E acrescentou: “O que descobrimos foi que é uma das razões pelas quais o mastim tibetano é tão diferente das outras raças de cães. E isto deve-se ao empréstimo de algumas características dos lobos do Tibete.”