Entrevista a Rita Ventura, médica veterinária na Clinique Vétérinaire de la Paix, França
Qual a sua área de especialidade e porque escolheu essa área?
Quando terminei a licenciatura fiz uma tese de Mestrado-investigação em Wageningen (Holanda) no âmbito do programa Erasmus em Aquacultura e Pescas e estagiei no Oceanário de Lisboa. Ao regressar a Portugal não consegui encontrar trabalho nessa área e comecei a especializar-me em Segurança alimentar. Fiz várias formações nessa área, nomeadamente no sistema ISO 22000:2005, incluindo uma Pós-graduação em Sistemas de Gestão de Segurança Alimentar.
Como surgiu a oportunidade de ir trabalhar para o estrangeiro? Onde trabalha neste momento?
Foi mais um CV enviado, mais uma tentativa (na altura sem muita esperança, confesso, porque não falava francês). Tinha decidido mudar de vida e terminado o contrato como Diretora de Qualidade e Segurança Alimentar num matadouro (onde estava há dois anos e meio). Foi uma amiga que viu a oferta de emprego num site e me alertou. Trabalhei cinco anos e meio como Veterinária Gestora de Projetos para a Comissão Europeia (DG SANTE) através de uma consultora francesa. Entretanto decidi que era o momento de mudar de desafio e agora sou estagiária numa clínica. Ou seja, dez anos depois regresso à pratica de clinica veterinária.
O que o fez tomar a decisão de ir para fora de Portugal?
Sempre tive vontade de viver noutros países e aproveitei a oportunidade do Erasmus para essa experiência a nível profissional. O meu mundo nunca foi limitado às nossas fronteiras.
Quais as diferenças que encontra entre os métodos de trabalho nos dois países? Ou seja, como é um dia de trabalho normal? O que faz?
Não posso comparar a atividade clínica que se desenvolve nos dois países porque não conheço o suficiente as duas realidades. Neste momento, como estagiária, acompanho as consultas (incluindo as de especialidade), realização de exames complementares, cirurgias, tanto em animais de companhia, como em rural/animais de produção.
Como é viver fora de Portugal? Conseguiu adaptar-se bem?
Sinto-me em casa em França, tal como me senti em casa na Holanda. Considero que a facilidade de adaptação depende muito da nossa abertura de espírito. Nos países onde vivi, não obstante certas situações pontuais de racismo/xenofobia, fui bem recebida e integrei-me na sociedade muito facilmente.
Do que mais tem saudades de Portugal?
Do sol, da descontração…
Quais os seus planos para o futuro?
Continuar a procurar realizar-me profissionalmente, bem como a nível pessoal e “deixar-me levar” pelas oportunidades que vão com certeza cruzar a minha vida.
Equaciona voltar a Portugal?
Volto várias vezes por ano para abraçar quem é importante para mim e por agora chega, não tenciono voltar.
Que conselhos dá aos recém-licenciados em medicina veterinária que estão a ter dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?
Há “muito mundo” à nossa espera. Arrisquem e pensem “diferente”.
Como vê o estado atual da medicina veterinária em Portugal e no mundo?
Vejo um caminho longo a percorrer e consciências que têm de mudar. A saúde veterinária ainda não está devidamente incluída no conceito de saúde pública da maioria das pessoas, por exemplo. O bem-estar animal ainda é muito negligenciado. Mas avançamos!
Qual o seu sonho?
Sonho? Objetivo: continuar a desafiar-me constantemente e não ceder ao “caminho mais fácil”.