Os excrementos das aves apresentam níveis elevados de genes resistentes aos antibióticos presentes em agentes patogénicos “oportunistas”, pelo que podem representar mais riscos para a saúde humana do que se pode pensar à partida.
A conclusão é de um estudo realizado por engenheiros ambientais da Universidade de Rice, no Texas, EUA, que investigam a resistência aos antibióticos.
O estudo High levels of antibiotic resistance genes and opportunistic pathogenic bacteria indicators in urban wild bird feces identificou níveis elevados destes genes em excrementos de patos, corvos e gaivotas urbanas.
Estudos anteriores determinaram que genes (ARGs ou antibiotic resistant genes) e bactérias (ARBs ou antibiotic resistant bacteria) resistentes aos antibióticos e transportados pelas aves podem ser transferidos para os humanos através da natação, contacto com fezes ou por inalação de partículas fecais através de aerossóis. Outros estudos também analisaram fezes de aves encontradas perto de focos de ARG, como estações de tratamento de águas residuais e locais de drenagem de explorações avícolas.
Porém, este estudo recente procura quantificar a abundância, diversidade e persistência sazonal dos ARG.
“Ainda não compreendemos completamente quais os fatores que exercem pressão seletiva para a ocorrência de ARG no sistema gastrointestinal das aves selvagens urbanas”, explica um dos coautores do estudo, Pedro Alvarez, citado pela publicação Science Daily.
“Os antibióticos residuais que são assimilados acidentalmente durante a alimentação são provavelmente um destes fatores, mas é necessária mais investigação para discernir a importância de outros potenciais fatores etiológicos, tais como dieta das aves, idade, estrutura microbiológica intestinal e outros fatores de stresse”, acrescentou.
A equipa comparou amostras “recentemente depositadas” de cada espécie encontrada em Houston, EUA, durante os meses de inverno e verão, com amostras de aves de capoeira e gado conhecido por transportar algumas das mesmas mutações.
Verificaram que os ARGs em todas as espécies, independentemente da estação do ano, apresentavam uma resistência significativa aos antibióticos tetraciclina, betalactâmicos e sulfonamida. Para surpresa dos investigadores, foram identificados ARGs, em concentrações relativamente elevadas, comparáveis aos encontrados nas fezes recentes das aves de capoeira alimentadas ocasionalmente com antibióticos.
Encontraram também o intI1, um integrão (mecanismos genéticos que permitem às bactérias evoluir rapidamente) que facilita o rápido desenvolvimento de resistência bacteriana aos antibióticos, e que era cinco vezes mais abundante nas aves do que nos animais de produção.
“Os nossos resultados indicam que as aves selvagens urbanas são um reservatório negligenciado, mas potencialmente importante de genes de resistência antimicrobiana, embora a sua importância como vetores de transmissão direta de infeções resistentes seja possível, mas improvável devido à baixa frequência do contacto humano”, refere Alvarez.
Os investigadores descobriram que agentes patogénicos oportunistas, incluindo bactérias que causam infeções do trato urinário, sépsis e infeções respiratórias, eram comuns nas fezes de todas as aves, bem como outras associadas a intoxicação alimentar, que foram detetadas em amostras recolhidas durante o inverno.
As fezes de inverno, escreveram os investigadores, continham mais bactérias prejudiciais que também podem abrigar ARGs, possivelmente devido a uma menor inativação da luz solar e a diferenças nos níveis de humidade e temperatura.