A VAPP reuniu vários médicos veterinários no passado dia 21 de março para debater as urgências em oftalmologia no 1º Fórum VAPP. Cristina Seruca falou sobre a importância de existirem medicamentos para uso oftalmológico tópico em cães, gatos e cavalos, bem como as urgências mais difíceis de diagnosticar, como o glaucoma primário agudo e subagudo.
A realização do 1º Fórum VAPP, a 21 de Março, em Lisboa, teve como objetivo proporcionar aos médicos veterinários mais conhecimentos sobre oftalmologia veterinária, uma área que em Portugal, segundo Duarte Telhada, farmacêutico e Gestor de Produto da VAPP, “ainda está pouco desenvolvida”. A VAPP tem como objetivo colmatar uma lacuna que existia no mercado através da distribuição de produtos especializados para animais de companhia na área da oftalmologia. Cães, gatos e equinos de desporto são para já os contemplados com estes produtos que, tendo a mesma substância ativa dos produtos para humanos, têm uma posologia adequada para o animal.
O facto de os médicos veterinários terem à sua disposição medicamentos para uso oftalmológico tópico em cães, gatos e cavalos, que antes só existiam para uso humano, tem para Cristina Seruca, diplomada pelo European College of Veterinary Ophthalmologists, duas vantagens. Em primeiro lugar “em situações para as quais os produtos existentes estão indicados, o dono pode obter o fármaco imediatamente sem ter de ir à procura de uma farmácia para o adquirir. Isso permite iniciar a terapia de imediato, o que é particularmente importante em situações de urgência”. Em segundo lugar “em oftalmologia, como em outras áreas da medicina veterinária, há grandes diferenças em relação às propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas de um mesmo medicamento quando aplicado em espécies diferentes”. Como as bulas dos medicamentos comercializados para uso humano oftalmológico não estão de acordo com a sua aplicabilidade em medicina veterinária “isso gera frequentemente confusão e até mesmo falta de cumprimento por parte dos donos das recomendações referentes à posologia prescrita pelo médico veterinário”, refere Cristina Seruca.
Os medicamentos apresentados pela VAPP que estão disponíveis para uso veterinário tópico ocular incluem dois antibióticos de amplo espectro (cloramfenicol formulado em solução e pomada e ofloxacina formulada em solução e gel), um anti-inflamatório não esteroide (cetorolac em solução), dois corticosteroides (acetato de prednisolona em pomada e fosfato de dexametasona em solução) e uma lágrima artificial em solução. “São medicamentos que estão indicados para o tratamento de uma série de patologias oftalmológicas e consoante a sua formulação têm aplicabilidades distintas e as suas respetivas recomendações dependem das particularidades do caso clínico em questão”, indica a médica veterinária.
Urgências em Oftalmologia
O primeiro fórum organizado pela VAPP centrou-se nas ‘Urgências em Oftalmologia’ e Cristina Seruca explicou à VETERINÁRIA ATUAL que são consideradas urgências oftalmológicas “as patologias que requerem uma intervenção precoce para prevenir uma lesão ocular irreversível que pode comprometer a visão ou a própria viabilidade do globo”. Dentro destas, Cristina Seruca destaca como mais frequentes a “proptose do globo ocular, as úlceras de córnea progressivas, a descemetocele, a perfuração ou laceração corneana de espessura completa, o glaucoma agudo, a uveíte aguda e a neurite ótica”.
Algumas das urgências oftalmológicas poderão ser complicadas de diagnosticar. Para a médica veterinária, a urgência mais difícil de diagnosticar é precisamente o glaucoma primário agudo e subagudo porque a sintomatologia “pode ser muito subtil em casos iniciais e o próprio dono, na maioria das vezes, não se apercebe das anomalias e não procura o médico veterinário atempadamente”. No entanto, para o próprio médico veterinário, de acordo com a especialista, também não é uma patologia fácil de reconhecer, uma vez que “em fase inicial, a sintomatologia é insidiosa e inespecífica podendo incluir ligeira midríase, edema corneano ligeiro, congestão episcleral e aumento ligeiro a moderado da pressão intraocular”.
Além de tudo isto, os métodos de diagnósticos necessários para chegar a um diagnóstico definitivo incluem a oftalmoscopia, tonometria e gonioscopia. Sendo que “a tonometria e a gonioscopia não são geralmente utilizadas na rotina clínica do médico veterinário generalista, dado serem exames habitualmente realizados por médicos veterinários especializados em oftalmologia”, refere a especialista.
Medicamentos de uso animal
Da parte dos médicos veterinários, o feedback sobre estes fármacos tem sido “bastante positivo”, como afiança Duarte Telhada, pois agora “têm disponíveis para as clínicas e hospitais medicamentos exclusivos de veterinária, o que até então não acontecia e, por isso, tinham de recorrer aos medicamentos de uso humano”. Com o surgimento destes fármacos de uso veterinário, os médicos veterinários “já podem vender e receitar os nossos produtos nas suas clínicas e hospitais. Além disso, com produtos exclusivos de veterinária, o tratamento e posologia indicados estão estudados de acordo com a realidade do animal, o que não acontecia nos medicamentos de uso humano”. Duarte Telhada acredita que “a nossa chegada ao mercado da veterinária é sem dúvida uma mais-valia para todos os médicos veterinários e para a sua prática clínica”.
“Temos como principal objetivo fornecer ferramentas científicas e com uma enorme componente prática aos médicos veterinários na área de oftalmologia. É uma área em crescendo, com inúmeros casos de urgência, e como tal temos como responsabilidade dar a melhor resposta ao mercado e isso passa pela formação dos nossos médicos e pela introdução no mercado das melhores soluções terapêuticas”, declara Duarte Telhada em relação à realização do 1º Fórum VAPP. O evento contou com a presença de 90 médicos veterinários, “o que foi uma surpresa”, revela o CEO, acrescentando que “as instalações foram-nos gentilmente cedidas por um dos nossos parceiros, o Laboratório Edol, que foi incansável tendo proporcionado os melhores meios para que esta sessão fosse um sucesso”. Daí que o balanço seja “bastante positivo” não só pela adesão, mas pelo facto de “a formação ter sido proporcionada pela VAPP em estreita colaboração com a Dra. Cristina Seruca, que é diplomada em Oftalmologia pelo Colégio Europeu e reconhecida por toda a comunidade médica veterinária como a referência nesta área”.
A VAPP iniciou atividade em janeiro de 2017 e pretende consolidar-se na área da oftalmologia. “Estamos a investir esforços na introdução dos primeiros produtos e na realização de diversas formações”, salienta Duarte Telhada, revelando que “ainda durante este ano teremos mais produtos para esta área. O nosso foco é a oftalmologia, na qual queremos ser uma referência com produtos exclusivos de uso veterinário”. Porém, ainda de acordo com o responsável, “estamos também a avaliar novas moléculas e novos produtos para introduzir a curto médio prazo. E temos outras áreas estudadas e pensadas”.