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“Cuidem-se. Enquanto profissionais que estão muito expostos à dor e ao sofrimento de outros é importante cuidarem-se”

APMVEAC luto

A Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia (APMVEAC) e a Ecuphar realizaram no passado dia 8 de abril, em Lisboa, uma sessão de formação sobre ‘Luto – A perda de um animal de companhia’. Para debater temas como a perda de um animal de companhia e a eutanásia estiveram reunidos médicos veterinários, enfermeiros veterinários e auxiliares.

De acordo com a organização, as boas-vindas estiveram a cargo da presidente da APMVEAC, Lisa Mestrinho, do Bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, Jorge Cid, e do presidente da Associação dos Enfermeiros Veterinários Portugueses, Adérito Ortelá.

António Barbosa, professor catedrático de psiquiatria da Faculdade de Medicina de Lisboa e presidente da Sociedade Portuguesa de Estudo e Intervenção no Luto foi um dos oradores e abordou os principais conceitos do luto, salientando que “é desde logo um processo, mas um processo normal e universal, no qual a pessoa se encontra mais vulnerável. Neste domínio é importante que, perante uma perda, o profissional de saúde animal tenha a sensibilidade para permitir que o cliente possa expressar livremente os seus sentimentos.” O profissional abordou ainda alguns casos de complicações, que ocorrem em cerca de 20% das situações de luto e que serviram como exemplos de como há situações em que as pessoas não são capazes de integrar o luto e de seguir com a sua vida.

Já Miguel Barbosa, psicólogo clínico, começou por abordar os diferentes tipos de relação que as pessoas mantêm com os seus animais de companhia, em particular com o cão, sendo que o impacto da perda dependerá em grande parte do tipo de vínculo que existe entre o dono e o seu animal de companhia, referiu.

APMVEAC - luto

O psicólogo chamou ainda a atenção para o impacto que a perda de um animal de companhia pode ter nas crianças, referindo que existem estratégias que as clínicas e os hospitais veterinários podem adotar e que passam, por exemplo, pela implementação de uma consulta pré-eutanásia ou pelo posterior envio de um cartão de condolências.

O evento culminou com uma discussão sobre a forma como os profissionais de saúde animal se podem proteger do sofrimento alheio já que, de acordo com o psicólogo Miguel Barbosa, “entre todos os profissionais de saúde, os médicos veterinários são aqueles que lidam com mais mortes, sejam elas mortes programadas (eutanásia) sejam mortes por acidente ou doença.”

Segundo o psicólogo, no Reino Unido, e excluindo os animais que morrem naturalmente, os profissionais de saúde animal lidam com pelo menos 100 mortes anualmente enquanto por exemplo, os profissionais de saúde humana, como os médicos de família, lidam apenas com 20 mortes anuais.

“Cuidem-se. Enquanto profissionais que estão muito expostos à dor e ao sofrimento de outros é importante cuidarem-se, protegerem-se, para que não se deixem vencer pela exaustão emocional”, referiu ainda António Barbosa.

Numa nota enviada às redações, a APMEAC refere que se tratou de uma sessão “extremamente interativa, proporcionando momentos de discussão muito interessantes, nos quais os participantes puderam expor as suas dúvidas e partilhar as suas experiências.”

Como resultado, no próximo dia 14 de outubro, a APMVEAC vai realizar um treino de competências  comunicacionais no contexto da clínica de pequenos animais que procurará melhorar, através de uma metodologia assente num formato de role-play, as perícias comunicacionais na relação médico veterinário-cliente em diferentes contextos da clínica (comunicação de más notícias, comunicação do erro médico, discussão de eutanásia, discussão de opções de tratamento, discussão de sintomas e complicações inesperadas, discussão de prognóstico, abordagem de conflitos e abordagem de atitudes de negação).

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