O Vet.Point abriu as suas portas em tempo de crise e tem crescido. Sobretudo devido à postura, ao atendimento e à maneira de olhar para o animal e para o cliente. Se durante os anos iniciais o desafio foi fazer ‘mais com menos’, presentemente o desafio prende-se com a organização interna, sendo que “é necessário todos termos a mesma linguagem.
O Vet.Point – Instituto Veterinário da Linha, em Oeiras, abriu as portas a uma sexta-feira 13, em 2009 (ano de crise) e o seu percurso tem-se pautado por um crescimento sustentado. Poder-se-ia dizer que iniciar atividade num dia tido como azarento deu, afinal, sorte. Mas não. O sucesso deste centro de atendimento médico veterinário (CAMV) deve-se exclusivamente ao trabalho e à dedicação dos proprietários, os sócios Marco Simões e Nuno Leite.
Passados oito anos, o balanço é “positivo”, salienta Nuno Leite, o diretor-clínico. “Abrimos na altura de crise e sem carteira de clientes, por isso foi tudo construído do zero”. Este crescimento foi especialmente notório no ano passado. E, de acordo com o médico veterinário, “é uma consequência da nossa postura, do nosso atendimento e da nossa maneira de olhar para o animal e para o cliente em si”. Ou seja, “tentamos sempre resolver a parte clínica, mas não olhamos exclusivamente para esta vertente”. Por outras palavras: “consideramos o animal e o cliente como um todo”.
Visões semelhantes
Apesar de terem aberto o CAMV só em 2009, os dois médicos veterinários já se conheciam há alguns anos. Cruzaram-se na faculdade, mas foi a partir de 2006, quando começaram a trabalhar juntos no mesmo hospital veterinário, que “a relação se fortificou no dia-a-dia, ao percebermos que tínhamos a mesma maneira de trabalhar e uma visão muito parecida”, conta Marco Simões. Uma vez que possuíam visões semelhantes resolveram abrir um espaço juntos. Sendo que “queríamos a experiência hospitalar, mas sem perder a relação de proximidade com as pessoas”, sublinha o médico veterinário.
E o Vet.Point acaba por ser o reflexo dessas visões comuns, caracterizando-se por ter um amplo leque de serviços que muito se deve ao facto de “termos ambos experiência hospitalar”, complementa Nuno Leite. O CAMV dispõe de um laboratório com bioquímicas, hemograma, ionograma e microscópio. Ao nível da imagiologia, possui raio-X, ecografia abdominal e ecocardiografia e daí que “façamos todo o tipo de exames que implique o uso destes equipamentos”, refere o médico veterinário. No entanto, o Vet.Point dispõe ainda de um bloco operatório preparado para ortopedia e qualquer cirurgia de tecidos moles e recobro e/ou internamento durante o dia.
Equipa em crescimento
Quanto à equipa é constituída por uma rececionista, uma auxiliar/rececionista, uma enfermeira veterinária e quatro médicos veterinários. Além disso têm “uma colega a fazer o estágio de final de curso”, informa o diretor-clínico. Acolher este tipo de estágios é uma forma, segundo Marco Simões, de “damos o nosso contributo para a profissão porque ninguém sai da faculdade pronto para trabalhar”. Mas se hoje em dia a equipa já vai em sete elementos e perspetiva-se que continue a crescer, no início “éramos só os dois”, revela Nuno Leite, acrescentando que “só passado algum tempo fomos buscar a Alda, que está na receção”. Daí que, durante um período de tempo, “fizemos o trabalho ingrato de dar as consultas e depois ir à receção receber o pagamento, ou seja, transformar o trabalho em valor”.
Quando eram só os dois sócios, em termos clínicos “fazíamos um pouco de tudo”, diz Nuno Leite. Porém, progressivamente e conforme a equipa tem aumentado, “as áreas de atuação têm vindo a ficar delineadas”. Deste modo, o diretor-clínico explica que “temos um especial interesse nas áreas da dermatologia, cardiologia, medicina felina, comportamento animal, odontologia e cirurgia”. Não obstante, há mais duas áreas que “provavelmente vamos investir no futuro: oncologia e oftalmologia”, revela. Todas as outras áreas referidas estão “em investimento contínuo”, especifica Marco Simões, referindo-se à formação que os elementos da equipa fazem nas suas áreas de interesse.
A organização interna
Se quando nasceu e cresceu (em contraciclo) em tempo de crise o desafio era, de acordo com Nuno Leite, “o facto de termos de gerir os casos com poucos recursos. E notávamos que as pessoas estavam bastante pessimistas”. Atualmente, o maior desafio do Vet.Point é “a organização interna”, aponta Marco Simões, explicando que “é necessário todos termos a mesma linguagem e tentar eliminar ao máximo os problemas de comunicação”. Neste sentido, “cada elemento da equipa tem de saber o que deve fazer. Trabalhamos em equipa, por isso temos os mesmos objetivos e nunca podemos perder o nosso foco, que são os animais e os seus donos, e realmente o desafio é incutir esta filosofia”, complementa Nuno Leite.
Contudo, tendo em conta o crescimento sustentado deste CAMV, nomeadamente do número de clientes, esta filosofia tem sido bem assimilada pela equipa. E, em consequência, “tem acontecido muito o passa-a-palavra porque as pessoas vêm cá e, ao ter uma boa experiência e ao gostar do nosso atendimento, voltam e aconselham os nossos serviços”, sublinha o diretor-clínico.
Graças a este crescimento, no futuro já se pensa numa possível expansão das instalações. Porém “não queremos dar um passo maior do que a perna”, alerta Marco Simões, acrescentando que “temos investido todos os anos, quer seja em equipamento, quer seja em recursos humanos e, por isso, estamos cada vez mais e melhor equipados”.
Além do Vet.Point, Marco Simões e Nuno Leite possuem um outro CAMV, em Santos-o-Velho (Lisboa), que abriram mais de um ano depois do CAMV de Oeiras. “Curiosamente, tínhamos vários clientes daquela zona”, sublinha Marco Simões. Ou seja, que iam de Lisboa propositadamente para serem atendidos no Vet.Point. Deste modo “percebemos que tínhamos uma oportunidade naquela zona de Lisboa”, remata o médico veterinário, que ultimamente também se tem dedicado mais à gestão dos CAMVs. “Apesar de sermos os dois médicos veterinários, temos de dedicar mais atenção à parte da gestão”, refere Marco Simões, revelando que “já temos essa noção há bastante tempo”. Para colmatar esta ‘falha’ ao nível da gestão, a alternativa era contratar alguém, “mas somos pequenos”, indica o médico veterinário. Daí ter ‘assumido esta pasta’. Contudo, adianta que “vamo-nos apoiar de consultores”.
Olhando para o estado da profissão, Nuno Leite considera que, em relação aos clínicos de animais de companhia, “cada vez mais a qualidade geral dos serviços prestados tem vindo a melhorar”. Neste sentido, explica que “os colegas preocupam-se com a formação contínua e são cada vez mais exigentes”. O que, na opinião do médico veterinário, “é muito bom para a profissão e para os nossos pacientes”. Não obstante, há uma questão que aponta como preocupante: “o número crescente de médicos veterinários a serem formados, que será insustentável para o país. É uma questão de tempo”, remata. “Na verdade, já se nota”, acrescenta Marco Simões, argumentando que “a maior parte dos colegas que sai das faculdades estão a emigrar, sendo que alguns já nem tentam encontrar emprego cá, em Portugal”.