A grande vantagem desta prática é a preservação da estrutura muscular e nervosa do aparelho, não havendo lugar há amputação de órgãos, ou seja, o paciente não perde funções vitais, como a capacidade de respirar, falar ou deglutir.
Até agora, a intervenção neste tipo de tumores passava pela amputação de um destes órgãos e o doente teria de ser sujeito a uma traqueotomia.
Um quarto dos pacientes revelou uma preferência por este novo método, mesmo com 20% de risco para a própria vida.
Os sintomas destes tumores começam geralmente pela rouquidão, que se prolonga no tempo, acompanhados de dor ao engolir e uma picada no ouvido. São tumores que são diagnosticados quase sempre em estados muito avançados, por falha dos clínicos gerais que não enviam atempadamente os doentes para uma consulta da especialidade.
Eurico Monteiro, director de Otorrino do IPO do Porto, considera que existe falta de informação nos cuidados primários, em consequência, e segundo os dados do IPO, todos os anos cerca de 300 pessoas são sujeitas a uma cirurgia pesada devido a carcinomas da faringe e da laringe, disse ao “Jornal de Notícias”.
A aplicação desta nova técnica, utilizando raios laser, permitirá, numa grande percentagem, a remoção desses tumores sem os procedimentos mais dolorosos, como a amputação de órgãos, efectuada nas tais cirurgias pesadas. Eduardo Breda, especialista do Serviço de Otorrinolaringologia do IPO Porto, explicou que este tipo de doença é praticamente invisível, já que atinge sobretudo as «classe sociais mais desprotegidas, com mais incidência de alcoolismo e tabagismo», mas «afecta centenas de pessoas por ano».
A técnica de laser evita ainda que se esgote de imediato a possibilidade de recurso à radioterapia, que não pode ser repetida. Se até agora o médico propunha o paciente para radioterapia para que não tivesse que ser sujeito à violência de uma cirurgia aberta, agora a radioterapia pode aparecer depois, para complementar a cirurgia a laser. «Nos tumores mais avançados pode ser precisa a radioterapia depois da cirurgia a laser, para diminuir a metastização cervical, ou seja, a expansão do cancro pelo pescoço», pormenorizou Eduardo Breda.
Os números indicam que o recurso à cirurgia a laser tem os mesmos resultados que as terapias tradicionais. Ou seja, e como referiu o médico, «a taxa de sucesso pode atingir os 90% nos casos de tumores iniciais e 70% nos tumores mais avançados».
A técnica implica que o laser seja acoplado a um microscópio, sendo possível fazer-se a avaliação do tamanho e da profundidade do carcinoma. Eurico Monteiro, director do Serviço do Otorrinolaringologia do IPO Porto, explicou que o tumor é extraído por segmentos. «Vai-se retirando o tumor por fracções até se ter a certeza de que se retira toda a lesão», avançou, clarificando que dois meses depois da intervenção o doente está bem.
Ainda segundo o especialista, o pós-operatório é também mais simples do que o de uma intervenção tradicional, sendo possível a alta dos pacientes no dia seguinte ou dois dias depois da cirurgia, reduzindo assim os custos de tratamento.
Neste momento, há 70 doentes em lista de espera no IPO, «em média, terão de esperar entre dois meses e meio a três meses pela cirurgia», concluiu o director do serviço.
Cirurgia a laser mais eficaz em tumores em estado avançado
Os tumores em estado mais avançado da faringe e da laringe irão passar a ser tratados com recurso à cirurgia a laser. A nova técnica evita a amputação de órgãos e a perda, quase obrigatória, da fala ou da deglutição, e está já a ser utilizada pelo IPO do Porto.