Foi inaugurada em outubro de 2014 por um casal de médicos veterinários, João Piçarra e Lia Ribeiro, ambos gestores da clínica. Tem um nome invulgar, que já os acompanha desde o tempo em que tinham uma empresa que prestava serviços em várias clínicas. É uma clínica localizada na Parede, concelho de Cascais. “É um nome afetivo, original e simultaneamente clássico, que passa de geração em geração”, explica o diretor clínico João Piçarra. Ainda equacionaram mudar o nome principal da clínica, mas mesmo com o aconselhamento de uma empresa de imagem que contrataram para o efeito, optaram por mantê-lo e alguns clientes já ofereceram cães de loiça, que funcionam como mascotes. Juntam-se a Bela, a cadela do casal, que recebeu a equipa da VETERINÁRIA ATUAL de forma afável. Explicam-nos que é “a animadora social” e que é mais um elemento da equipa com direito a destaque no site da clínica.
Lia Ribeiro não se lembra de sonhar com outra profissão. Filha de um médico de Medicina Humana, lembra-se de afirmar continuamente que queria ser médica de animais. Foi uma escolha natural. Mais do que uma profissão, considera a Medicina Veterinária “um modo de estar na vida”. João Piçarra sempre gostou de “animais, biologia e natureza”, pelo que a opção por esta profissão seria “a que fazia mais sentido”.
Este é um CAMV muito familiar, em que todos os elementos já se conheciam antes de integrar o projeto. São três médicos veterinários e uma enfermeira veterinária juntando-se à equipa uma tosquiadora, que acorre à clínica sempre que há necessidade. “Todas as pessoas têm experiências diferentes noutros locais, em Portugal, mas também fora do país. Não contactámos ninguém inexperiente para a equipa até ao momento. Somos todos da mesma geração e discutimos em conjunto os assuntos. Não temos nem pretendemos ter empregados. Todos somos colaboradores”, defende Lia Ribeiro. A saúde e o bem-estar dos animais é a prioridade desta clínica, que dispõe de radiografia digital, ecografia, eletrocardiograma, uma sala de cirurgia, endoscopia e internamento para os animais em recuperação. “O nosso objetivo é ter animais felizes e donos satisfeitos”.
Sempre que necessário referenciam alguns casos mais complexos a outros colegas. “Nós próprios estamos dividimos por áreas de interesse – a Patrícia em oftalmologia e dermatologia, a Lia em Medicina Felina e eu em exóticos e cirurgia em tecidos moles”, explica João Piçarra. É com naturalidade que olham para a referenciação. “Não faz sentido estarmos a arriscar a fazer algo que não estejamos preparados, pelo que achamos que trabalhar com os colegas em prol dos pacientes é muito positivo”, acrescenta Lia Ribeiro.
Desafios atuais e futuros
Os clientes atuais dividem-se entre moradores do bairro onde a clínica se localiza e outros que já conheciam o trabalho dos seus fundadores. Abrir uma clínica em plena crise económica em Portugal foi “duro”. No entanto consideram que “tudo é possível com trabalho”. Procuram o equilíbrio entre aquilo que têm de suportar para manter a sustentabilidade do negócio e o que que os clientes “podem e conseguem pagar”, explica o diretor clínico. A aposta na fidelização dos clientes e na confiança do trabalho desenvolvido é contínua. “Somos profissionais de mente aberta e adaptamos os nossos tratamentos às possibilidades económicas dos nossos clientes”, explica Lia Ribeiro. A dermatologia é a área que reúne maior motivo de recorrência às consultas, ainda que os problemas dependam muito de cada espécie. “Cada uma tem as suas particularidades”. A clínica está aberta todos os dias e fecha ao domingo, ainda que os seus colaboradores estejam disponíveis por contacto telefónico 24 horas por dia, não sendo pouco frequente o atendimento fora de horas sempre que necessário ou quando surge algum caso urgente.
Consideram que a Medicina Veterinária tem evoluído muito nos últimos anos “do ponto de vista científico e técnico. Há cada vez mais oferta de formação, de especializações e enquanto profissionais, temos de procurar estar sempre atualizados”, explica João Piçarra. Gostariam de ter acesso a mais materiais, como por exemplo endoscópios. “Ambicionamos ter capacidade económica para andar mais à frente e vamos em breve iniciar a cirurgia laparoscópica”, revela. No que respeita à Medicina Veterinária no futuro, o médico veterinário considera que aproximar-se-á cada vez mais da Medicina Humana. “Aquilo que é entendido como qualidade de vida para um ser humano não o é para os animais. Isto passa muito pela adaptação dos cuidados veterinários às necessidades próprias de cada espécie”.
Espera que a classe consiga continuar a evoluir tecnicamente, mas que também aumente “a sensibilidade por parte dos profissionais para identificar as necessidades de cada animal”. Elogia as mudanças que se têm vindo a verificar nos últimos anos e espera que continuem a surgir alterações positivas na especialidade. “Tenho alguma esperança na nova Direção da Ordem dos Médicos Veterinários”. O ano de 2015 foi positivo para a clínica notando-se “uma maior confiança por parte dos consumidores” e uma evolução dentro do que haviam perspetivado. “Estamos satisfeitos”, dizem-nos. Apesar de não estarem situados numa localização muito visível, os clientes acabam por ser fieis, sendo que a “publicidade boca a boca continua a ser a melhor”. Têm site e página de Facebook, sendo responsáveis pela gestão de ambos, ainda que considerem que necessitam de uma estratégia de melhoria no que respeita aos novos canais de comunicação. “Podemos sempre melhorar. As gerações mais novas chegam muito a nós através das novas tecnologias”, afirma Lia Ribeiro.
Relação próxima com os clientes
Inês Baltazar é enfermeira veterinária da Cão de Loiça. Oriunda de Castelo Branco e licenciada em Elvas, começou à procura de trabalho em todo o país, uma vez que a oferta na cidade onde nasceu é “inexistente”. Estagiou no Hospital Veterinário Montenegro, tendo passado também pela Marinha Grande, mas acabou por encontrar um trabalho certo em Lisboa. “Finalmente encontrei a minha casa”, diz-nos. É com agrado que assiste ao crescimento diário da clínica. “Temos cada vez mais trabalho e o ambiente é ótimo. O facto de nos conhecermos é bom pois trabalhamos entre amigos e isso acaba por passar para os clientes, que se sentem em casa”.
Inês não equaciona voltar a Castelo Branco pois a maioria das clínicas “não investe em enfermagem veterinária, preferindo contratar auxiliares, com salários menores, notando-se uma grande taxa de desemprego e pouco investimento em Medicina Veterinária”. Já em pequena afirmava que gostaria de trabalhar com animais. O curso de enfermagem veterinária foi “um sonho tornado realidade”. E porque não a Medicina Veterinária? “Considero que há um contacto mais próximo com os animais e os clientes. São os enfermeiros que acabam por passar mais tempo com os animais. O reconhecimento por parte deles é recompensador”, afirma. Considera que o nosso país tem ainda muito para desenvolver. “Em particular, a Enfermagem Veterinária precisa de mais apoio. Estamos muito no princípio, um pouco perdidos e a desbravar terreno. Acredito que iremos chegar mais longe, pois estão a ser criadas subáreas dentro da especialidade”. Tem esperança em relação ao futuro, acreditando que a Medicina Veterinária terá tempo e espaço para se desenvolver quando as condições económicas do país melhorarem.
De Inglaterra para Portugal
Já Patrícia Branco é médica veterinária e esteve um ano a trabalhar no sul de Inglaterra, numa clínica privada “com uma dimensão maior que a Cão de Loiça e equiparada aos hospitais veterinários em Portugal”. Sentiu necessidade de alargar os horizontes e de ter uma experiência profissional diferente. Correu tudo bem e foi uma oportunidade “única e gratificante”, mas sentiu necessidade de voltar ao seu país sobretudo devido às saudades de casa e da família. Quando lhe perguntamos se sentiu muitas diferenças entre a prática clínica portuguesa e inglesa é perentória: “A maioria dos proprietários tem o seu animal segurado e tem mais condições económicas para possibilitar a prestação de melhores cuidados de saúde ao seu animal. Por seu turno, os médicos veterinários têm assim mais oportunidade de fazer um melhor trabalho. Esta é a grande diferença em relação à profissão em Portugal”, destaca.
Em Portugal, as possibilidades de melhorar os procedimentos ou trabalhar de outra forma “acabam por ser menores”, não só pela conjuntura económica que obriga a que os clientes repensem as suas prioridades e coloquem os cuidados veterinários em segundo plano, como pelo maior número de licenciados e poucas ofertas de trabalho. “A experiência em Portugal tem corrido muito bem. Nesta clínica em particular temos clientes fidelizados, com uma relação muito próxima assemelhando-se muito àquilo que é desenvolvido pela Medicina Geral e Familiar”, conclui.