No Congresso BSAVA 2024, Adina Valentine, RVN e gestora da Origin Vets Clinic, falou sobre como executar uma prática amigável relativamente a animais de companhia exóticos e como pode esta ser incorporada no exercício diário veterinário, de forma a melhorar o bem-estar destes animais.
“Com a preferência por animais de companhia não tradicionais a continuar a aumentar, é mais importante do que nunca considerar como os cuidados veterinários podem ser adaptados às necessidades, muitas vezes incompreendidas, destas espécies e qual o papel da equipa veterinária”, refere Adina Valentine, citada no site da BSAVA.
Os desafios dos animais de companhia exóticos
A maioria das espécies exóticas mascara muito bem os sinais de doença, salienta a especialista, adiantando que o “stress é um assassino para muitos pacientes exóticos e o stress adicional pode levar à descompensação rápida”.
Assim, de acordo com a gestora, as oportunidades para reduzir o stress nestes animais devem ser aproveitadas em todos os aspetos aquando de uma visita ao veterinário – desde a viagem para o consultório, zonas de espera ou consultas.
Antes de visitar o veterinário
A especialista explica ser importante incentivar os tutores a iniciarem um processo de dessensibilização a novos objetos em casa assim que adotarem o seu animal de companhia e antes de qualquer visita veterinária. Isto inclui os transportadores (particularmente importante para as aves), toalhas e a adaptação a outros objetos necessários aquando de uma visita médica.
É fundamental, enfatiza Adina Valentine, que a equipa de receção seja treinada e capaz de fornecer informações por telefone.
Durante a viagem para o veterinário
O transporte de animais exóticos para uma consulta veterinária pode ser um processo stressante e agravar os seus sintomas clínicos. Os tutores devem ser aconselhados sobre como transportar os seus animais em segurança, de forma a reduzirem o stress tanto quanto possível.
“Embora possa parecer óbvio, alguns princípios básicos passam por conduzir com cuidado, evitar música alta ou até mesmo o rádio do carro e garantir que os animais estejam seguros no seu transportador”, explica a especialista.
Já relativamente aos répteis, “é importante que sejam mantidos aquecidos durante todo o transporte”, salienta a gestora, referindo que uma pequena fonte de calor pode ser fornecida usando uma garrafa de água quente ou uma almofada térmica enrolada numa toalha, mas sem entrar em contacto direto com o animal.
Répteis de pequeno a médio porte podem ser transportados em recipientes de plástico bem ventilados com a tampa fechada, forrados com uma toalha ou jornal. Em relação a lagartos e cobras de maior porte, podem ser transportados num saco de pano fechado em segurança.
Para os pequenos mamíferos, Adina Valentine sugere que o transporte seja feito com muitas toalhas e feno dentro da transportadora e, se necessário, a utilização de um spray calmante nas toalhas para tranquilizar o animal.
Para os animais que vivem em casal, os tutores devem levar o seu companheiro na viagem, podendo também levar um pouco da ração para que possam comer normalmente durante a visita ao veterinário, salientou a especialista.
Relativamente às espécies aquáticas, devem ser transportadas no seu próprio tanque de água, e o tutor deve também levar um saco extra de água do tanque (pelo menos 20 ml), caso seja necessário testar a água.
Durante a consulta
Uma vez na consulta, os princípios de uma prática amigável para estes animais começam na zona de espera.
Se o espaço permitir, deve ser criada uma sala de espera específica para animais exóticos ou uma área separada dentro da área de espera principal, onde possam estar longe da visão, cheiro e som de cães e gatos, isto é particularmente importante para espécies como os coelhos, que acham altamente stressante estar perto de espécies predadoras.
Dentro da área apenas exótica, as clínicas devem pensar na existência de uma separação entre espécies (presas e predadores).
No consultório, é importante fornecer poleiros para as aves e toalhas para serem usadas como barreira visual. Além disso, a gestora avança ser fulcral diminuir as luzes para espécies diurnas e manter o oxigénio pronto, caso seja necessário.
Para répteis, é essencial gerir o calor e evitar variações de temperatura, assim como reduzir o ruído, o movimento/vibrações e o cheiro, sendo importante ter à mão equipamento apropriado em caso de picada de espécies venenosas.
Para pequenos mamíferos, é fulcral abafar o ruído, o odor e a visão, para evitar que continuem a receber sinais dos animais predadores no consultório.