A questão foi deixada no ar por Vicky Halls, enfermeira veterinária e autora de várias publicações sobre comportamento felino, durante uma intervenção no London Vet Show: o salvamento de animais de companhia em excesso, e de gatos em particular, poderá esconder um problema psicológico grave?
Falamos de pessoas que ‘acumulam’ animais de companhia nas suas casas com a desculpa de que as estão a salvar e a oferecer uma vida melhor. De acordo com a especialista em comportamento felino, para os gatos, em particular, este tipo de comportamento pode esconder uma doença psicológica e pode prejudicar a saúde do animal, que pode vir a sofrer de problemas de consanguinidade graça a estes ambientes.
Vicky Halls apresentou estatísticas relativamente aos EUA, onde 76% destes ‘acumuladores’ são mulheres e 46% têm mais de 60 anos. Para a especialista, estes dividem-se frequentemente em três categorias: o cuidador excessivo (overwhelmed caregiver), o colecionador de resgates (rescue hoarder) e o explorador (exploiter).
Os cuidadores excessivos são definidos como aqueles que reconhecem as circunstâncias negativas associadas ao excesso de animais, mas que ainda assim não são capazes de fazer nada para resolver a situação ou de recusar mais um animal. Estas pessoas tendem a isolar-se, não tendo ninguém que regule o seu sentido de realidade.
Por outro lado, os colecionadores de resgates iniciam a obtenção de animais como uma missão, mas acabam por exceder-se porque, na sua perspetiva, ninguém é capaz de tomar conta dos animais tão bem como eles. Estas pessoas têm, muito frequentemente, uma rede de pessoas próxima que lhes permite e facilita o comportamento de obtenção de mais animais.
A especialista define ainda os exploradores como aquelas pessoas que têm algumas tendências sociopatas, não sentindo qualquer tipo de remorso ou culpa e adquirindo um papel autoritário de um ‘especialista’ para, assim, continuar a adotar mais animais. Para Vicky Halls, estas são pessoas que muitas vezes usam o seu amor por animais como desculpa para continuarem a resgatar animais e são, frequentemente, pessoas com muito poucos conhecimentos acerca das espécies que albergam.
Halls alerta que os médicos veterinários devem estar conscientes destas características, já que muito frequentemente são pessoas que pedem medicamentos para os seus animais sem que tenham sequer visitado os consultórios e, muitas vezes, possuem animais que apresentam más condições físicas, referindo que os acabaram de resgatar ou mostrando-se relutantes em revelar quantos animais albergam.