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Médicos Veterinários

“Sentir que fizemos parte de uma conquista olímpica é absolutamente incrível”

João Paulo Marques é médico veterinário e o único português que integrou a equipa de fisioterapia veterinária dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

João Paulo Marques é médico veterinário e o único português que integrou a equipa oficial de fisioterapia veterinária dos Jogos Olímpicos de Tóquio. A medicina desportiva foi sempre a sua área de eleição, tendo fundado a empresa “Equidesporto, Assistência Veterinária Móvel”, onde desempenha a sua atividade clínica há mais de 20 anos. Em conversa com a VETERINÁRIA ATUAL, fala-nos da experiência recente nos Jogos Olímpicos e do seu percurso profissional, pautado pela formação contínua e cargos de direção em associações internacionais.

“Foi com muita alegria que recebi em 2019 o convite para participar nos Jogos Olímpicos de Tóquio como membro da equipa oficial de veterinários responsáveis pelos serviços de fisioterapia”, começa por contar João Paulo Marques.

 

A equipa de veterinários especializados na área da fisioterapia e da reabilitação foi montada por forma a oferecer este tipo de serviços aos cavalos dos atletas e das equipas dos diferentes países dos Jogos Olímpicos. Num evento de alta competição, explica o médico veterinário, “o foco passa pela preparação para a competição e a recuperação da condição física após o esforço”. Em Tóquio, as modalidades mais utilizadas pela equipa veterinária de fisioterapia foram “as terapias manuais (nas suas várias vertentes), algumas modalidades eletrofísicas de fisioterapia como o Laser, o Campo Magnético Pulsátil, a Radiofrequência por Diatermia / TECAR e a acupuntura”. De realçar que os cavalos que apresentavam algumas “condições clínicas crónicas − apesar de devidamente controladas − beneficiavam de alguns cuidados específicos adicionais”, nota.

 

Em Tóquio, João Paulo Marques teve oportunidade de trabalhar não só com cavalos e cavaleiros que já conhecia como também de colaborar com outros cavaleiros e equipas que assim o solicitaram. “Posso afirmar que é uma sensação indescritível quando alguns desses cavalos com que trabalhei chegam às medalhas e ao pódio. Sentir que fizemos parte de uma conquista olímpica é absolutamente incrível, mais ainda quando os cavaleiros nos dão crédito pela nossa contribuição”, confidência o médico veterinário.

Ao longo dos anos têm sido vários os projetos internacionais em que se tem envolvido, tanto nas áreas da reabilitação e fisioterapia, como na área das medicinas complementares e integrativas e considera que a participação em Tokyo2020 é também fruto do reconhecimento por esse trabalho. “Acho muito prestigiante esta minha participação não só para mim, como profissional, mas também para Portugal que continua a ver muitos profissionais portugueses − particularmente na área da saúde − com o seu trabalho reconhecido além-fronteiras”.

O que faz um médico veterinário num evento de alta competição?
 

O desporto equestre é atualmente muito controlado para garantir os parâmetros de saúde e bem-estar dos animais e os médicos veterinários desempenham um papel fundamental nas suas várias funções. “Começam por fazer um exame à chegada para controlarem a identidade dos cavalos e para se assegurarem do seu estado sanitário e de que não possuem doenças infetocontagiosas”, explica João Paulo Marques acerca dos procedimentos dos médicos veterinários nos Jogos Olímpicos. “Há uma comissão veterinária que se assegura de que os cavalos estão em condições de competir e de que todos os procedimentos com implicações na saúde e bem-estar animal são cumpridos. Existe também uma clínica veterinária montada no local com meios de diagnóstico e possibilidade de intervenção cirúrgica”, conta.

Os médicos veterinários − locais e estrangeiros − são destacados para diferentes pontos estratégicos do evento de modo a monitorizarem e intervirem rapidamente sempre que seja necessário ou em caso de acidente. Esta equipa inclui veterinários especializados em “técnicas de fisioterapia”, como é o caso de João Paulo Marques, e outros cuja função passa por “verificar que não há cavalos com sensibilidade anormal dos membros”, explica o fundador da Equidesporto.

 

Nestes Jogos Olímpicos, para fazer face às condições meteorológicas verificadas em Tóquio, criaram uma equipa de profissionais que monitorizava constantemente a temperatura dos cavalos, tanto em treino como em competição, através de controlos por termografia. “As altas temperaturas e a humidade eram uma das preocupações relativamente à saúde dos equinos a competir neste evento por forma a identificar precocemente situações subclínicas, atempando qualquer intervenção necessária”, revela.

Projetos além-fronteiras

Após mais de 25 anos de trabalho e formação nas suas áreas de especialização, confessa-se muito orgulhoso deste reconhecimento profissional. João Paulo Marques divide o seu tempo entre Portugal e o estrangeiro. Atualmente lidera um projeto editorial internacional em Reabilitação Equina, “com uma equipa de 80 autores de renome mundial entre médicos veterinários, fisioterapeutas e investigadores”. Já em 2019, e na mesma área de especialização, organizou “o primeiro curso prático fora dos EUA do programa do CERP (Certified Equine Rehabilitation Practitioner, certificado pela Universidade de Tennessee) em parceria com a empresa de formação alemã VAHL (Veterinary Academy of Higher Learning)”. Desde então tornou-se instrutor desse Certificado, que este ano se realiza também no Reino Unido e na Suíça.

Percurso profissional

João Paulo Marques é licenciado em Medicina Veterinária desde 1995, certificado em Acupuntura Veterinária pela International Veterinary Acupuncture Society (IVAS), em Quiroprática Veterinária pela International Veterinary Chiropractic Association (IVCA) e em Reabilitação Equina (CERP) pela Universidade de Tennessee, nos EUA. Atualmente é instrutor deste Certificado na Europa, membro da direção da International Association for Veterinary Rehabilitation and Physical Therapy, sediada nos EUA, e membro fundador e presidente da Associação Portuguesa de Acupuntura Médico-Veterinária. É ainda credenciado pela Federação Equestre Internacional (FEI) como delegado veterinário para as modalidades de Ensino, Obstáculos, CCE e Atrelagem.

Assumiu o cargo de docente de medicina veterinária nas áreas de reabilitação, fisioterapia e medicinas complementares, foi sócio fundador e consultor técnico da “Hidrovet, Centro de Reabilitação Equina” e fundou a empresa “Equidesporto, Assistência Veterinária Móvel” em 1999, onde desempenha a sua atividade clínica desde então.

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