A equipa de investigação EVIEDVET da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa analisou os programas curriculares de seis faculdades de medicina veterinária portuguesas para perceber a representação da medicina baseada na evidência e das terapias não convencionais no ensino em Portugal.
Que ensino da medicina baseada na evidência (MBE) e das terapias não convencionais (TNCs) existe nos currículos de medicina veterinária em Portugal? Esta foi a pergunta de partida do estudo encabeçado pelo médico veterinário, Manuel Magalhães-Sant’Ana, que teve como método de análise os programas curriculares oficiais de seis faculdades de medicina veterinária portuguesas (de um total de 8), conforme foram aprovados pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior em 2016. Entre elas a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa (FMV-UL); a Universidade Trás-os-Montes-e-Alto Douro (UTAD); o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS-UP); a Escola de Ciências e Tecnologias da Universidade de Évora (ECT-UE); a Escola Universitária Vasco da Gama (EUVG); e a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (FMV-ULHT).
Os principais resultados revelam que:
– Não foi encontrada qualquer menção a “evidência” no currículo obrigatório da FMV-UL, UTAD e ECT-UE;
– Na EUVG e no ICBAS “evidência” surgiu de um ponto de vista experimental e empírico;
– Das 26 palavras-chave previamente validadas na investigação, três delas não foram encontradas em nenhum currículo: “Cochrane”, “meta-análise” e “placebo”;
– Foram identificadas três disciplinas – duas obrigatórias (UTAD e EUVG) e uma opcional (FMV-ULHT) – que lidam com competências elementares de investigação, tais como planeamento de um projeto científico, desenho experimental e competências de escrita e apresentação de comunicação científica;
– Além disso, foram encontradas três disciplinas optativas especificamente dedicadas às TNCs (FMV-UL, EUVG e FMV-ULHT). Terapias como acupuntura, fitoterapia, homeopatia e medicina tradicional chinesa são ensinadas não apenas como sendo complementares, mas também como alternativas válidas às terapias convencionais.
Em jeito de conclusão, os responsáveis pelo estudo indicam que “foram encontradas deficiências importantes em termos do currículo declarado de MBE nas faculdades de medicina veterinária em Portugal” e alertam que, desta forma, “é necessário mais ensino da MBE, nomeadamente a avaliação crítica da literatura científica e a integração das melhores evidências na tomada de decisões clínicas”.
Foram ainda identificadas algumas limitações:
- Tópicos relevantes de MBE/TNC podem não ter sido incluídos nos currículos declarados;
- Os programas de estudo podem ter mudado desde que os currículos veterinários foram aprovados em 2016.
De futuro, a investigação pretende alargar-se a uma análise aprofundada através de inquéritos e entrevistas do currículo ensinado (do ponto de vista dos professores) ou do currículo aprendido (do ponto de vista dos alunos).
Aceda ao estudo na íntegra aqui.