À medida que as vendas de antibióticos para animais de produção caem, mais uma vez, por toda a Europa, Portugal volta a registar uma tendência de crescimento, ocupando agora o quarto lugar na lista de países que mais adquirem agentes antimicrobianos. Os dados são apresentados no 10.º Relatório Anual da Vigilância Europeia do Consumo de Antimicrobianos Veterinários (ESVAC).
Em 2018, ano a que se reporta o relatório, o País registou uma quantidade de 186,6 mg/PCU (mg de princípio ativo por unidade de correção de população).
Portugal é, assim, o quarto país que mais adquiriu agentes antimicrobianos veterinários destinados a animais de produção (incluindo equinos) em 2018, ficando apenas atrás do Chipre, Espanha e Itália. A média europeia nos 31 países avaliados é de 103,2 mg/PCU.
O presidente da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica de Medicamentos Veterinários (APIFVET) olha para os números por outra perspetiva. Jorge Moreira da Silva defende que não se podem “comparar os sistemas de produção animal existentes nos 31 países” e, comparando a situação nacional com os dois maiores países do sul da Europa, Espanha e Itália, diz que “Portugal apresenta números francamente melhores”.
No relatório, a subida das vendas de agentes antimicrobianos veterinários em 2018 comparativamente a 2017 (134,1 mg/PCU) é justificada com a indicação de que terá havido uma subnotificação das vendas em 2017.
Em declarações à VETERINÁRIA ATUAL, o presidente da APIFVET argumenta que “devemos fazer uma média ponderada de 2017 e 2018”, com o resultado de “160mg/PCU”, uma vez que se verificou “um erro de notificação em 2017 (os números dados eram inferiores à realidade)”, tendo depois sido feita essa correção em 2018.
“Se comparamos este dado [de 2017] com 2016, último ano em que os dados estavam corretos, houve um decréscimo de cerca 22,9 %. Em 2016, tivemos 208 mg/ PCU, e a média ponderada de 2017 e 2018 foi 160,35 mg/PCU. Isto demonstra que existe uma tendência decrescente do uso de antibióticos na produção nacional”, explica Jorge Moreira da Silva.
O relatório, publicado recentemente (21 de outubro), dá conta do número de vendas de antibióticos em 31 países europeus. Para Cat McLaughlin, presidente da RUMA — Responsible Use of Antibiotics in Agriculture Alliance, “é muito positivo ver esta tendência decrescente em quase todos os países, não só em termos de vendas totais, mas também os antibióticos de maior prioridade – cefalosporinas de 3.ª e 4.ª geração, fluoroquinolonas e colistina”.
No total de vendas de cefalosporinas de 3.ª e 4.ª geração para espécies produtoras de alimentos, Portugal regista um decréscimo face a 2016 (0.5 mg/PCU) e 2017 (0,6 mg/PCU), registando 0,4 mg/PCU em 2018.
Em entrevista ao jornal online MRCVS, a responsável adianta que, “embora a utilização de antibióticos na produção de alimentos não seja o principal responsável pelas infeções resistentes aos antibióticos nas pessoas, pode ser um fator contribuinte. A utilização de qualquer antibiótico tem a capacidade de criar resistência e […] todos nós devemos proteger a eficácia dos antibióticos médicos e veterinários reduzindo, refinando ou substituindo a sua utilização”, conclui.
Estima-se que a resistência a agentes antimicrobianos possa ser responsável pela morte de dez milhões de pessoas por ano em 2050. Portugal tem um plano de combate a estas resistências, de acordo com uma abordagem Uma Só Saúde, que será implementado até 2023.