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Médicos Veterinários

O valor do nosso conhecimento!

Image generator/ChatGPT

Há alguns fins de semana, tive uma pequena reunião de família em que estiveram presentes a minha tia (que é advogada) e o meu filho, que andava por brincadeira a recolher assinaturas de familiares num pequeno caderno.

Ricardo Almeida

Direitos reservados

Posto isto, virou-se para ela e disse:

 

– Ó tia, podes escrever neste caderno o teu nome e fazer a tua assinatura?

– Posso pois, mas olha que a minha assinatura é muito valiosa – disse ela com uma gargalhada.

 

Esta frase ficou a ressoar na minha cabeça e comecei a indagar no quanto valeria a minha assinatura.

Prontamente pensei no que assino a título profissional, como sejam, atestados de vacinação, atestados de desparasitação, atestados de sanidade, preenchimento de boletins e passaportes, identificações eletrónicas, atestados de esterilização, relatórios médicos (tão na moda devido aos seguros), etc.

 

Esta assinatura só é possível depois de acumular anos de conhecimento e com a obtenção de um título profissional válido que permita atestar determinadas situações (neste caso o de médico veterinário).

Ao refletir sobre o tempo e investimento que fiz na minha carreira para poder realizar esta assinatura e ao conjugar estas informações com determinadas situações que me vão acontecendo nas consultorias, bem como na minha própria prática clínica ao longo dos últimos anos, não pude deixar de sentir que o valor do meu conhecimento se encontra desvalorizado…

 

Quem diz a assinatura, diz o conhecimento em geral… Partilho aqui alguns dos casos em que considerei o conhecimento e título de médico veterinário subvalorizado:

  • Há pouco tempo uma auxiliar de clínica veterinária que tinha trabalhado com um notário, numa reunião de equipa, questionou como é que o conhecimento médico veterinário era tão mal remunerado, já anteriormente trabalhava num serviço em que o conhecimento era de tal forma valorizado que até a autenticação de uma fotocópia, ou o reconhecimento de uma assinatura, era devidamente cobrada (para não falar do preço de uma escritura). A resposta foi simples: não é qualquer pessoa que autentica o documento… é alguém que tem o título para o fazer (e que investiu muito que isso fosse possível);
  • Um colega que realizava ovariohisterectomias por um determinado preço, baixou o valor ao adquirir experiência, porque, segundo ele, demorava menos tempo com cada uma;
  • Um caso ainda mais grave de um colega que começou a baixar os preços quando iniciou a realização do procedimento por laparoscopia (segundo ele um processo mais simples, logo mais barato, deitando completamente por terra a teoria da diferenciação;
  • Um hospital que não cobrava urgências noturnas, porque o médico veterinário estava presente no hospital a noite toda, logo o cliente poderia aparecer à hora que quisesse;
  • O famoso “encostar o ecógrafo”, tantas vezes não cobrado ao cliente, a última vez que um médico me “encostou um ecógrafo”, demorou 3 minutos e paguei 60 euros (sem IVA claro está);
  • Os tão badalados relatórios, em que além dos anos de conhecimento para os emitir, nos demoram uma quantidade considerável de tempo, de forma a compilar todos os exames complementares de diagnóstico. Esse tempo é um enorme custo de oportunidade em que poderíamos estar a fazer ouras tarefas bastante mais lucrativas ou divertidas;
  • As consultas a 20 euros (com IVA!) que ainda se praticam em tantos CAMV deste País;
  • A falta de cobrança de “controlos” ou segundas consultas;
  • Colegas que dizem: “não vou cobrar porque não receitei ou administrei nada”;

E vocês? Sentem o vosso conhecimento valorizado?

Concordam com algum destes exemplos? Conhecem mais algum?

Sei que a não podemos consertar preços, e que o mercado é totalmente livre para fazer o que entender no estabelecimento da tabela de honorários, mas enquanto não valorizarmos o nosso conhecimento, não nos poderemos continuar a queixar.

Permitam-me que deixe dois avisos/conselhos, o primeiro para os gestores e o segundo para os colaboradores:

Enquanto os gestores não estabelecerem preços dignos, não poderemos pagar bons salários e, consequentemente, não poderemos aliciar os nossos jovens a ficar na clínica de animais de companhia.

Enquanto os colaboradores não cobrarem os seus serviços (e especialmente o seu conhecimento), ou estiverem sempre a fazer descontos, as empresas não têm capacidade para aumentar os salários.

Felizmente temos assistido a um aumento brutal de diferenciação e consequentemente dos preços no nosso País, mas continuamos a ter um longo caminho a percorrer…

E vocês? Cobram o vosso conhecimento?

*DVM; MBA; Diretor clínico Vet Póvoa; Consultor Stratvet

**Artigo publicado na edição 181, de abril, da VETERINÁRIA ATUAL.

 

 

 

 

 

 

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