A instituição de conservação da natureza Rewilding Portugal lançou um novo projeto que pretende integrar cães com o gado existente na área do Douro para reduzir a predação dos lobos e promover a coexistência da subpopulação de lobo-ibérico português, que se encontra em perigo de extinção.
O primeiro cão desta iniciativa, que se chama LIFE WolFlux, é o Leão, um filhote de Serra da Estrela que será integrado com o gado pela equipa da Rewilding Portugal.
De acordo com Sara Aliácar, técnica de conservação da Rewilding Portugal, o objetivo é “incorporar 100 cães com o gado existente na área do projeto” e “reduzir a predação dos lobos”. Promovendo a “coexistência entre as pessoas e o lobo, o Leão e os cães que o seguirem contribuirão para a recuperação do lobo, aumentando a estabilidade, a interação e a expansão territorial das alcateias já estabelecidas”, acrescentou.
O lobo-ibérico a sul do rio Douro perdeu habitat e a baixa conectividade entre grupos e o conflito com seres humanos, bem como a falta de presas silvestres, prejudicam a capacidade de recuperação desta espécie.
Os lobos a sul do rio Douro dependem de gado doméstico para alimentação, que em alguns casos representa mais de 90% da dieta de algumas alcateias.
Reduzir a predação do lobo no gado só será totalmente eficaz se os lobos tiverem uma fonte alternativa de alimento. É por isso que no projeto LIFE WolFlux, financiado pela Comissão Europeia e cofinanciado pelo Endangered Landscapes Programme, a equipa da Rewilding Portugal está a trabalhar com outros parceiros (Universidade de Aveiro, ATNatureza, Zoo Logical e Rewilding Europe) para conseguir garantir a disponibilidade de presas silvestres suficientes para os lobos, através do aumento das populações locais de corço, reforçando as cadeias alimentares naturais. Em 2019, foi realizado um trabalho preliminar de monitorização para perceber melhor a distribuição e a abundância das populações de corço na área do projeto.
“Um pastor com cães Serra da Estrela pode proteger-se da predação de lobos com muito mais eficiência do que um que não os utilize”, explica Sara Aliácar.
“Os cães detetam invariavelmente a presença dos lobos primeiro. Num habitat rochoso e arbustivo, como aquele que caracteriza a área deste projeto, a estratégia que eles utilizam consiste em deitarem-se, esconderem-se e ficarem de vigia”, acrescenta.
O novo programa de proteção de animais será implementado de acordo com a procura, sendo necessário que os pastores solicitem primeiro os cães para iniciar o processo de incorporação.
Posteriormente, a equipa da Rewilding Portugal visita o pastor para avaliar se o cão é realmente necessário. Caso a avaliação seja positiva, o cão de Serra da Estrela é atribuído gratuitamente, assim como os serviços de seguro, alimentação e veterinário até o animal completar os 18 meses de idade, quando se considera que estará apto a realizar todas as suas funções.
Os cães são fornecidos pelo Grupo Lobo, uma ONGA – Organização não governamental de ambiente portuguesa que trabalha para conservar os lobos ibéricos e o seu habitat e que dará apoio no treino dos cães.
A equipa da Rewilding Portugal também planeia distribuir vedações aos pastores em áreas prioritárias para que estes consigam proteger ainda mais os seus rebanhos e manadas.
Veja um vídeo do Leão no Instagram da Rewilding Portugal.