A entrada em vigor de um regulamento europeu que, embora não proíba a prescrição de medicamentos humanos aos veterinários, estipula que deve ser dada preferência à utilização de medicação veterinária vai levar a que os medicamentos fiquem mais caros, avança o jornal Público.
No preenchimento dos formulários de receita disponíveis na nova plataforma de prescrição eletrónica médico-veterinária, os profissionais que optarem pelos medicamentos de uso humano são obrigados a justificar essa escolha. Sendo que o preço não é aceite como motivo válido.
A provedora nacional do animal, a ex-bastonária dos médicos veterinários Laurentina Pedroso, teme que muitas famílias deixem de ter dinheiro para medicar animais. “Este regulamento é obviamente de cumprimento obrigatório, mas uma coisa é certa: aplica-se aos países do Norte da Europa, e não à realidade portuguesa. Não somos um País de ricos”, sustenta. Para a médica veterinária, perante este cenário é necessário criar medicamentos genéricos de uso veterinário, à semelhança do que já existe para os humanos.
Outra crítica apontada pela provedora é a falta de medicação veterinária disponível nas farmácias existentes em pequenas localidades. “O que acontece se um animal doente não for tratado com a celeridade necessária?”, questiona. “Esta regra limita a decisão clínica”, resume.
Por sua vez, a representante da Associação de Médicos Veterinários dos Municípios, Vera Ramalho, dá como exemplo uma situação com que teve de lidar há alguns anos, o caso de uma gata que sofria de hipertiroidismo. “O medicamento de uso humano que lhe foi prescrito custava 1,67 euros mensais. Mas se fosse de uso veterinário custava 40.”
Já Paulo Pereira, da Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia, recorda que mesmo antes do surgimento do regulamento já existiam recomendações no sentido de dar primazia aos fármacos veterinários – que nem todos os profissionais, porém, cumpriam. “Agora não têm escapatória”, observa.
O jornal Público tentou também ouvir o bastonário dos médicos veterinários, Jorge Cid, mas não obteve resposta.