A Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA) alertou para a pressão existente no setor da alimentação animal, causada pelo aumento do preço das matérias-primas. Aliado a isso, tem existido uma volatilidade dos mercados internacionais.
Em comunicado, a associação relata que a situação se agrava desde o outono de 2020. O milho, que se encontra neste grupo de matérias-primas, atingiu já aumentos de 50% face a outubro do ano passado.
A dinâmica internacional resumida no índice de Preços da FAO que regista desde junho de 2020 aumentos mensais consecutivos, está apenas 7,6% abaixo do pico (137,6 pontos) atingido em fevereiro de 2011. Para esta situação, segundo a IACA, estão a contribuir, em simultâneo, diversos fatores:
- Dificuldades de aprovisionamento devido às compras de stocks pela China para o desenvolvimento das suas produções pecuárias;
- Redução de produção de cereais em alguns pontos do globo;
- Aumento da procura nos EUA, no Brasil e na Ucrânia;
- Greves na Argentina;
- Condições climatéricas desfavoráveis;
- Imposição de taxas à exportação de cereais pela Rússia;
- Taxas alfandegárias de 25% à importação de milho dos EUA.
“O agravamento do preço do petróleo contribui, igualmente, para o aumento dos custos intermédios da produção”, informa ainda a associação do setor da alimentação animal.
Conjuntura nacional e comentário do secretário-geral da IACA
Além da conjuntura internacional o setor das rações português sofre, ainda, os efeitos da conjuntura nacional. “A crise mais aguda da pandemia e o novo confinamento imposto no início do ano, com mais restrições no funcionamento do canal HORECA, a par da ausência de turistas, conduziu a uma quebra no consumo de produtos de origem animal. A produção pecuária tem mais custos ao manter os animais durante mais tempo nas explorações e, assim, dificuldade em acompanhar o aumento do preço das rações”, alerta a IACA.
Segundo informações já publicadas por empresas do setor, a associação apurou que os aumentos por tonelada de ração estão entre os 50 e os 60 euros, o que apenas reflete parcialmente os agravamentos.
“Numa altura em que se discute o Plano de Contingência da União Europeia, para mitigar os efeitos de futuras pandemias, as lições da covid-19 mostram que, pese embora a notável resiliência do agroalimentar português, temos de ser menos dependentes dos mercados externos. É urgente criar as condições para que os agentes económicos não abandonem a atividade face à dura realidade imposta pela pandemia”, declarou o secretário-geral da IACA, Jaime Piçarra.
O responsável acrescentou ainda que “nesta perspetiva, e sendo certo que a pressão do aumento dos preços das matérias-primas prosseguirá no segundo semestre, a alimentação animal não pode financiar as diferentes fileiras. O esforço tem que ser repartido por todos os intervenientes e os preços dos produtos de origem animal terão de refletir as novas condições de mercado, se queremos manter a atividade pecuária em Portugal”.