São sete anos de existência, mas uma evolução acelerada onde se incluem serviços diferenciadores, obras de reestruturação de um espaço moderno e atualizado, com uma equipa preocupada em trabalhar em função do que é melhor para cada paciente. Com a noção de que têm uma profissão com enorme responsabilidade social, Sónia Miranda e Carla Albano abrem as portas ao Hospital Veterinário do Atlântico e contam-nos os vários projetos em curso, além das suas perspetivas para o futuro.
Foi criado de raiz, há sete anos, e projetado desde o seu arranque com a perspetiva de ser um hospital de referência nacional. A sua localização na periferia da grande Lisboa, com acessos privilegiados e numa zona de franco crescimento populacional, em Mafra, permitiu ao seu mentor, o médico veterinário Nuno Gomes da Silva ter essa visão ambiciosa. O Hospital Veterinário do Atlântico (HVA) esteve sob a sua gerência e direção durante cinco anos e conquistou o prémio “CAMV do Ano” na primeira edição dos Prémios Veterinária Atual, realizada em 2014.
“No início de 2019, com a experiência de 18 anos de gerência e direção clínica de outras unidades hospitalares veterinárias no centro do País, decidi remar mais a sul e agarrar o projeto do HVA, juntamente com a colega Carla Albano para efetivar o crescimento para o qual tinha sido projetado”, revela Sónia Miranda, diretora clínica e também sócia gerente. Nestes dois anos em que o hospital está sob a gerência de ambas as médicas veterinárias, tem sido possível seguir o caminho a que se propuseram. E isso consubstancia-se em dotar a estrutura de serviços de especialidade e com qualidade, o que permite “uma resposta clínica diferenciadora, de confiança, para sermos verdadeiramente um hospital de referência nacional, o que implicou uma dinâmica de organização que envolve a aquisição de equipamentos, obras estruturais internas, envolvimento e reforço da equipa e protocolos de colaboração com colegas especialistas pelo Colégio Europeu e, outros, que nos permitam dar uma resposta médico veterinária de excelência”, explica Carla Albano.
A equipa, constituída por 26 colaboradores no quadro pessoal da empresa, conta com doze veterinários, sete enfermeiros, duas auxiliares e cinco rececionistas e administrativos. O HVA conta também com o apoio de mais sete colaboradores externos em regime de prestação de serviços especializados. Na receção e na sala de espera, existe a separação física entre a zona de cães e gatos e, cada uma delas, faculta o acesso a dois consultórios mais destinados ao atendimento de felinos e exóticos e, outros dois, específicos para cães. Esta separação é essencial para que tudo corra de forma calma e existam condições próprias para receber esses pacientes tão particulares. “Sabemos que, por natureza, os gatos são animais mais suscetíveis a ficar em stresse quando confrontados com alguma experiência fora do seu quotidiano”, diz a diretora clínica.
No interior, todo o hospital funciona à volta do internamento geral, constituído por uma ampla sala com zona de boxes para internamento preferencialmente cirúrgico, uma zona de cuidados intensivos e uma zona de internamento de medicina interna. Nesta zona central existem mais duas salas separadas, uma de internamento de gatos e uma maternidade. Destaque ainda para uma zona com entrada separada, para tratamento de animais com doenças infeciosas, apetrechada de uma pré-câmara e composta por uma sala de tratamentos e internamento.
Ao redor, na zona central do hospital, funciona a sala de Tomografia Axial Computorizada (TAC), com um espaço de leitura do exame e um laboratório onde se executam a maioria de análises clínicas correntes, inclusive, provas endócrinas, uroculturas e citologias. “A nossa sala de ecografia, de Raio-X e as duas salas de cirurgia encontram-se totalmente equipadas. Neste momento, com o desenvolvimento das áreas da cirurgia minimamente invasiva e do intervencionismo, estamos equipados com fluoroscópio, endoscopia rígida e flexível diagnóstica e de intervenção para as mais variadas situações. Destaque ainda para “o laser cirúrgico díodo, laser de Holmium para litotrícia, único em Portugal, em medicina veterinária”, refere Carla Albano. As duas torres de anestesia com ventilador mecânico incorporado e respetivos monitores de sinais vitais, permitem a realização de duas cirurgias de alto nível em simultâneo. Neste piso hospitalar, está localizada uma zona de apoio, com farmácia e balneários.
  “De momento, oferecemos um serviço diferenciado em termos de diagnóstico, tipificação e correção do síndrome obstrutivo de vias aéreas dos braquicéfalos, para os quais nos diferenciamos pela realização de provas dinâmicas para as hérnias de hiato” – Sónia Miranda, diretora clínica do HVA
No piso inferior, além de uma zona de receção, convívio e coffee-break, existe uma ampla área de formação, um auditório e uma sala equipada para formação prática. Um espaço ainda desocupado será futuramente utilizado para o desenvolvimento da área de fisioterapia. Já no piso superior, encontra-se toda a componente administrativa com escritórios, zona de descanso e de convívio de toda a equipa.
Serviços diferenciadores reforçam confiança e referenciação
O HVA assume a sua aposta na diferenciação na prestação de uma medicina veterinária com recurso a alguns serviços de referência. “A aquisição de um equipamento de TAC de 64 cortes e um Arco C, que permitem a realização de estudos cardiológicos e outros procedimentos de intervencionismo”, explica Carla Albano. Com o recurso a uma equipa especializada e estes novos equipamentos, tem sido possível aumentar a resposta na área de traumatologia, neurocirurgia e oncologia.
“Um dos setores que mais cresce e no qual somos pioneiros em Portugal em algumas técnicas, é o serviço de Cirurgia de Mínima Invasão, Endoscopia e Radiologia Intervencionista. É inequívoco e do conhecimento da classe profissional, que as técnicas de mínima invasão são o padrão-ouro para muitos procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Assim, no HVA e com a coordenação e colaboração de um colega especialista internacional, oferecemos todo um conjunto de técnicas de endoscopia diagnósticas e cirúrgicas, assim como o diagnóstico e terapias por radiologia intervencionista (guiadas por fluoroscopia)”, destaca Sónia Miranda. Isto justifica a referenciação e a confiança por parte de colegas que enviam casos de Norte a Sul do país para o HVA.
“Neste momento, apostamos, de forma prioritária, na cirurgia laparoscópica, toracoscópica e outras técnicas cirúrgicas guiadas por modalidades de imagem, que permitem, através de um trauma mínimo ao paciente, realizar procedimentos complexos que, através de técnicas convencionais abertas, apresentam uma morbilidade perioperatória muito mais elevada”, salienta Carla Albano. “O hospital tem desenvolvido também um trabalho particular na área de tratamento da urolitíase em cães, gatos e espécies exóticas, onde oferecemos, por exemplo, o único serviço de referência nacional com litotrícia transuretral com laser de Holmium: YAG, e técnicas pioneiras em Portugal, como a PCCL (cistolitotomia percutânea)”, acrescenta a médica veterinária.
No que respeita a técnicas guiadas por imagem, os procedimentos auxiliados por fluoroscopia, como dilatações por “stents”, o diagnóstico dinâmico em tempo real de vias urinárias e patologias digestivas, fazem igualmente parte de muitas referências que o HVA recebe. “De momento, oferecemos um serviço diferenciado em termos de diagnóstico, tipificação e correção do síndrome obstrutivo de vias aéreas dos braquicéfalos, para os quais nos diferenciamos pela realização de provas dinâmicas para as hérnias de hiato. Oferecemos técnicas ímpares cirúrgicas vídeo-assistidas para estas raças, que se traduzem em melhores resultados a curto, médio e longo prazo”, refere Sónia Miranda. Esta linha de trabalho também tem sido muito destacada por colegas de todo o País que referenciam os seus casos para o HVA por conhecerem os resultados clínicos diferenciados.
“Estando o hospital a crescer cada vez mais no sentido de dar resposta diferenciada e especializada nas diferentes áreas da medicina veterinária, creio que a tendência pós-pandémica também será esta” – Carla Albano, sócia-gerente do HVA
O HVA sentiu necessidade de realizar algumas obras de reestruturação que arrancara pouco depois com a chegada das duas sócias-gerentes, onde além de ter sido possível separar a sala de espera de cães e de gatos, foi construída uma área própria com acesso direto, o CVRA – com sala de espera e receção próprias – com um consultório amplo e uma sala para inseminações e laboratório para biotecnologia do sémen/banco de sémen. Foi também criada uma maternidade de apoio ao mesmo. “Montámos uma sala para a TAC, com uma outra paralela para a sua leitura e uma nova zona laboratorial para a realização interna das citologias e uroculturas. Construímos e munimos o hospital de todo o equipamento necessário para termos uma nova sala de cirurgia, criando o Centro de Mínima Invasão Veterinária, Cirurgia, Endoscopia e Radiologia Intervencionista”, destaca a diretora clínica.
Proximidade com a comunidade envolvente
As redes sociais funcionam como uma forma da equipa se manter próxima dos seus clientes além do momento da visita e da deslocação ao hospital. “Conseguimos assim estar presentes na comunidade que servimos, mantendo o foco no bem-estar animal.” Ambas as médicas veterinárias têm investido na gestão profissional das redes do HVA e do CRVA. O HVA está presente no Facebook, com mais de 7400 seguidores, e no Instagram, com quase 1300 seguidores. “Ambos os canais são usados como um meio de comunicação, não só informativo, onde são divulgadas as medidas de segurança em vigor, mas também de partilha em tom descontraído e de interação com quem nos segue.”
Além da partilha de casos clínicos, estas plataformas são ferramentas que permitem alertar para determinadas situações e aconselhar formas de prevenção ou de ação. “Os clientes procuram esta transparência e disponibilidade, gostam de estar a par do que acontece no hospital onde confiam a saúde dos seus animais e acreditamos que isto lhes transmite segurança”, afirma Sónia Miranda.
E como tem sido a procura do HVA nos períodos de confinamento geral? A diretora clínica garante à VETERINÁRIA ATUAL que não se tem sentido uma redução de afluxo dos clientes ao hospital, muito pelo contrário. “Temos notoriamente um aumento de casos clínicos de medicina interna, de cirurgia e de serviços de especialidades médicas em detrimento de casuística de profilaxia.” Os casos referenciados por colegas de outras clínicas também sofreram um acréscimo. “Estando o hospital a crescer cada vez mais no sentido de dar resposta diferenciada e especializada nas diferentes áreas da medicina veterinária, creio que a tendência pós-pandémica também será esta”, sublinha Carla Albano.
Ao nível da responsabilidade social, o HVA presta uma resposta clínica a várias associações de defesa da causa animal, com valores adaptados às várias circunstâncias de apoio social. “Continuo também a colaborar e a apoiar a Associação da Beira Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual”, destaca Sónia Miranda.
A incessante aposta na formação
É usual a prática de receção, acompanhamento e formação de estagiários de medicina e de enfermagem veterinária. “É imprescindível para a formação de um bom profissional, o ensinamento, a partilha de conhecimentos e a entreajuda de profissionais experientes”, defende a diretora clínica. “O crescimento e desenvolvimento de um profissional só faz sentido se for feito através da partilha e espírito de equipa. Todos nós, fomos um dia estagiários e precisámos de alguém já formado e com experiência que nos mostrasse como pôr em prática, os conteúdos teóricos que foram transmitidos na faculdade”, acrescenta Carla Albano. O HVA integra o projeto de Erasmus, Think4jobs, que tem como missão “desenvolver e capacitar o ensino para dotar os estagiários de um maior espírito crítico”, assinala.
“A organização da medicina veterinária no que confere à abordagem profilática e ao modelo de referenciação é o futuro que nos aguarda e, todos em conjunto, exercemos uma profissão de respeito e de responsabilidade social”, defende a médica veterinária Carla Albano
Em relação à formação dos colaboradores, para uma prática de excelência, é fundamental que a equipa se mantenha a par da evolução da ciência e, por isso, o estudo é contínuo, bem como, a luta pela especialização e pela evolução do setor. “É por isso que o HVA quer sempre acompanhar a evolução da medicina veterinária através da formação contínua dos seus colaboradores, apoiando-os em formações, cursos e outras formas de adquirir novos conhecimentos em direção ao que de melhor se faz na prática diária da medicina veterinária”, salienta Sónia Miranda. É com satisfação que fala da “grande vantagem de contar com as formações constantes que se fazem dentro do HVA, nomeadamente pela Improve International e pela UpdateVet”.
Relativamente à área das terapias de mínima invasão, a equipa está empenhada na implementação e desenvolvimento de mais técnicas de forma a ir de encontro às guidelines atuais de diagnóstico e terapia de variadas situações clínicas. “Acreditamos que esta é uma realidade incontornável e, em todos os cantos do mundo, vemos uma fluorescente implementação destas técnicas, pelo que não ficaremos indiferentes em acompanhar estas tendências”, salientando a possibilidade de revelar mais novidades nesta área, sobretudo no que se refere ao intervencionismo, durante o ano de 2021.
Novos desafios, melhor preparação
“O aumento da importância dos animais de companhia na sociedade atual é preponderante na constante procura por cuidados médico-veterinários especializados e de excelência”, sublinha a diretora clínica. Esta procura tem permitido às equipas e às estruturas criadas, uma evolução notória, ao longo dos últimos anos. “Estamos capacitados para enfrentar estes novos desafios no diagnóstico e na terapêutica com as melhores técnicas, preservando a saúde e o bem-estar animal. A organização da medicina veterinária no que confere à abordagem profilática e ao modelo de referenciação é o futuro que nos aguarda e, todos em conjunto, exercemos uma profissão de respeito e de responsabilidade social”, explica Carla Albano.
Sónia Miranda encontra-se num momento da sua vida profissional que se consubstancia em vinte anos de liderança de equipas e deixa uma mensagem a todos os colegas inspirada no seguinte provérbio africano: “Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá acompanhado”, ao qual, acrescenta… “E vá com os melhores”.
Preservar a informação genética
O Centro de Reprodução Veterinário do Atlântico (CRVA), funciona estruturalmente em paralelo com o hospital, com receção e sala de espera próprios e tem um consultório amplo. “Lidamos, muitas vezes, nesta área, com dois cães de grande porte em simultâneo. Uma sala devidamente equipada permite a realização das inseminações e das biotecnologias necessárias para as patologias reprodutivas e, também, para recolha e conservação de sémen, no banco de sémen”, salienta Sónia Miranda.
“[Os enfermeiros veterinários] têm as capacidades técnicas e o conhecimento necessário para o apoio em várias áreas, desde a área laboratorial, cirurgia, anestesia, internamento, entre outras, e estão habilitados para serem os grandes colaboradores dos médicos veterinários” – Sónia Miranda, diretora clínica
Neste CVRA, trabalha um colega especialista pelo Colégio Europeu, Paulo Borges, que permite dar uma resposta efetiva na área da canicultura. “Somos procurados por todo o País e estamos diariamente em contacto com todo o mundo, essencialmente com o envio e receção de sémen.” Assim, é possível realizar inseminações intrauterinas diariamente. “A procura pela conservação de sémen, no nosso banco, tem sido muito grande, pois existe um grande interesse na preservação de informação genética, que pode ser perpetuada desta forma, no tempo e no espaço”, acrescenta Carla Albano.
Enfermeiros na linha da frente
Os enfermeiros veterinários (sete, no total, até ao momento) têm um papel fundamental na revolução operada no HVA e no setor da medicina veterinária em Portugal, garante Sónia Miranda. “Têm as capacidades técnicas e o conhecimento necessário para o apoio em várias áreas, desde a área laboratorial, cirurgia, anestesia, internamento, entre outras, e estão habilitados para serem os grandes colaboradores dos médicos veterinários”, defende. Não existe nenhum serviço do hospital que não seja formado, neste momento, por uma pequena equipa multidisciplinar, que inclui médico, enfermeiro, auxiliar e até o administrativo responsável por essa área. “Só assim é possível fornecer uma adequada resposta de qualidade aos nossos clientes e pacientes”, conclui a diretora clínica.
*Artigo publicado originalmente na edição 147, de março de 2021, da VETERINÁRIA ATUAL.