Abriu as portas a 11 de janeiro de 2022 para responder à crescente procura em Santo Tirso, concelho onde faltava uma unidade de referência na medicina veterinária. O Hospital Veterinário de Santo Tirso quer dar resposta às necessidades dos tutores, das clínicas mais pequenas e, sobretudo, continuar a ser uma equipa que aposta na diferenciação de cuidados.
O Hospital Veterinário de Santo Tirso (HVST) comemora este mês de junho cinco meses de existência. Contudo, a sua história começa em 2008 quando os veterinários António Pedro Rocha e Ricardo Baptista abriram o primeiro consultório nesta cidade do distrito do Porto, a Clínica Veterinária de Santo Tirso. “Começámos só nós os dois num consultório de 80 m2, mas rapidamente começámos a ter trabalho e a ter uma afluência significativa de tal forma que, passado um mês, contratámos logo uma auxiliar que está connosco desde então”, conta Ricardo Baptista à VETERINÁRIA ATUAL.
Depressa as necessidades da equipa foram aumentando conforme a carteira de clientes ia crescendo e expandindo-se pelos arredores de Santo Tirso ao ponto de, em 2010, terem tomado a decisão de expandir a então Clínica Veterinária de Santo Tirso para a periferia com a abertura de outro Centro de Atendimento Médico-Veterinário (CAMV) em S. Tomé de Negrelos com mais uma veterinária, outra dos vários profissionais que se mantêm na equipa até hoje.
O médico veterinário e diretor clínico do HVST lembra como o crescimento foi bastante rápido, mas sustentável e logo nos primeiros tempos começaram a perceber que o espaço que tinham condicionava a resposta que pretendiam dar à comunidade e à carteira de clientes que ia aumentando a olhos vistos, sempre com novas necessidades a suprimir. “Tínhamos uma afluência de pacientes muito elevada e as instalações tornaram-se muito pequenas, por isso, em 2016, aumentámos a área da primeira estrutura para os 250 m2”, sublinha Ricardo Baptista. A ideia era, na altura, sobretudo dar resposta ao crescente número de cirurgias e consequente necessidade de internamento dos animais de companhia para recobro e também à procura dos serviços da clínica, tanto no diagnóstico como no tratamento, muito embora continuassem apenas com licença de consultório.
Contudo, era precisamente a licença de consultório médico veterinário que condicionava os projetos de expansão da equipa para quem “não fazia sentido estar a abdicar de algum tipo de trabalho que podíamos prestar por não estarmos licenciados como hospital veterinário”, explica Ricardo Baptista.
“A ideia de evitar ao máximo o cruzamento entre cães e gatos ajuda a causar o mínimo de stresse para o animal e possibilita que nós profissionais trabalhemos melhor.” Ricardo Baptista, diretor clínico HVST
 
Assim começou a nascer a vontade de partir para novos desafios e começou a desenhar-se o projeto de hospital veterinário que acabou por abrir as portas a 11 de janeiro deste ano, num espaço localizado “mesmo no centro de Santo Tirso” e com uma dimensão de 1000 m2 “que permite ter aqui um conforto para clientes e colaboradores e que permite trabalhar de forma mais consistente”, assegura o médico veterinário.
Agora capazes de dar a resposta que sempre desejaram às necessidades da carteira de clientes com instalações e licença para funcionar enquanto hospital veterinário, neste momento, a ideia da equipa ainda é manter as outras duas clínicas abertas. A Clínica de S. Tomé de Negrelos faz sentido continuar a funcionar por estar mais distante do centro da cidade e trabalhará com um veterinário e um enfermeiro a tempo inteiro e num horário comum de consultório. Já a Clínica Veterinária Santo Tirso está neste momento fechada por motivos logísticos, mas o objetivo é fazer um “downsizing da estrutura para cerca de metade” de forma a concentrar os recursos humanos no novo hospital, mas mantendo as portas abertas para responder à carteira de clientes mais fiel às primeiras instalações.
Separação física: a bem de animais e de profissionais
Feita a história do HVST, Ricardo Baptista apresenta as valências que as novas instalações vieram permitir. Em primeiro lugar, salienta, permitiram “fazer uma separação física clara entre a área de cães e de gatos”, porque embora na primeira clínica a equipa já apostasse em circuitos separados entre felinos e caninos, não conseguia o nível de distanciamento que as novas instalações conseguem alcançar.
Logo à chegada as entradas são separadas para que gatos e cães tenham o mínimo contacto visual e o mínimo de cruzamento desde que entram no hospital. Existem depois salas de espera distantes para cães e gatos, um total de quatro consultórios separados para cada uma das espécies e também internamento dedicado a canídeos e felinos. No HVST a aposta passou pela separação dos internamentos, existindo “um internamento normal e outro destinado a doenças infectocontagiosas para cães e outro internamento normal e outro para doenças infectocontagiosas para gatos”, explica o diretor clínico do hospital. A estes quatro internamentos junta-se ainda mais um para animais exóticos, um mercado em franco crescimento também na cidade de Santo Tirso.
O objetivo destes circuitos separados “é procurar a certificação Cat Friendly” para as instalações, admite Ricardo Baptista, um reconhecimento pela atenção e respeito pelo conforto dos animais de companhia, sobretudo dos gatos, e também uma ajuda preciosa para o trabalho dos profissionais de medicina e de enfermagem veterinária. “A ideia de evitar ao máximo o cruzamento entre cães e gatos, ajuda a causar o mínimo de stresse ao animal e possibilita que nós profissionais trabalhemos melhor, já que um animal mais relaxado permite fazer um melhor exame físico e uma melhor avaliação do seu estado”, explica o médico veterinário.
O hospital possui ainda “duas salas cirúrgicas totalmente equipadas que permitem estar a trabalhar em simultâneo e otimizar as instalações a nível cirúrgico” e um “laboratório completamente equipado” que agiliza a realização de exames complementares de diagnóstico.
Os serviços do HVST estão disponíveis 24 horas por dia, 365 dias por ano, sendo que das 21 horas às 9 horas funciona em regime de urgência, com médico veterinário e enfermeiro em permanência, sempre de porta aberta para situações que necessitem de resposta imediata.
Apostar na especialização da medicina veterinária
A equipa foi somando elementos ao longo destes 14 anos, com “poucas perdas e muito ganhos de pessoal” neste percurso, assegura Ricardo Baptista, com muitos dos profissionais a integrarem a equipa desde a abertura das duas primeiras clínicas. Para o diretor clínico “é com muita alegria que vejo que as pessoas vão ficando e vão acrescentando valor” às valências disponibilizadas aos clientes do HVST – sendo que, com a abertura do hospital, saiu apenas uma veterinária por motivos pessoais – e hoje a equipa conta ao todo com oito médicos veterinários e 10 auxiliares de enfermagem que dão resposta às mais variadas especialidades da medicina veterinária e, sobretudo, criaram um “ambiente de trabalho em que as pessoas se dão todas bem”.
“O objetivo é mesmo procurar que cada um dos colegas desenvolva uma área específica e acabe por apostar mais numa especialidade.” Ricardo Baptista, diretor clínico HVST
O diretor clínico garante que “um dos nossos fortes” no HVST é a cirurgia, seja de tecidos moles ou em ortopedia, e tem profissionais que se interessam por especialidades como a dermatologia, oftalmologia, imagiologia, nutrição, medicina de reprodução ou cardiologia ou valências como comportamento animal para responder às dificuldades dos tutores em compreender e lidar com o comportamento dos animais de companhia. “O objetivo é mesmo procurar que cada um dos colegas desenvolva uma área específica e acabe por apostar mais numa especialidade”, refere o diretor clínico, permitindo, desta forma, que o hospital preste serviços diferenciados nas mais variadas especialidades da medicina veterinária. Nesse sentido, neste mês de junho está prevista a entrada de outro médico veterinário, desta feita um profissional júnior que acabou de concluir a licenciatura, que vem já com particular interesse pela imagiologia e pela oftalmologia e tem como missão clara “ser uma mais-valia para desenvolver o departamento de oftalmologia”.
Aliás, a especialização dos vários membros da equipa será uma das grandes apostas que o diretor clínico pretende desenvolver no HVST no sentido de “oferecer cada vez mais serviços especializados” e ser mesmo uma estrutura que “preste um serviço de referência na zona” de Santo Tirso que não possuía, até agora, uma estrutura de elevada diferenciação em medicina veterinária como um hospital.
A ideia passa por, para além de dar resposta às necessidades da carteira de clientes tutores de animais de companhia, ser uma estrutura de apoio e referência para as clínicas do concelho de Santo Tirso e arredores que não têm licencia para funcionar como estrutura hospitalar. “Não pretendemos fazer concorrência direta, o objetivo é completar e ajudar com serviços nas diferentes áreas de intervenção”, explica Ricardo Baptista, insistindo que essa referenciação se deve à boa relação que foram construindo com os colegas ao longo dos anos e que permite uma referenciação das clínicas para os cuidados diferenciados do HVST que, depois de resolvida a situação, volta a referenciar o animal de companhia para o médico veterinário que o acompanha.
Outro objetivo é tirar total partido dos 1000 m2 do HVST, a começar pelo espaço exterior coberto. Usado para os passeios dos animais internados, a ideia é aproveitar essa zona para dinamizar várias atividades com os tutores, assim as condições climatéricas o permitam, tal como fomentar a parceria com que já existe desde os tempos da abertura Clínica de S. Tomé de Negrelos com uma treinadora especialista em treino canino para realizar aulas nesse espaço. “É um serviço que tem muita procura, o treino de comportamento, de obediência e de correção de comportamentos erráticos nos cães e então aproveitamos para maximizar o espaço com o treino canino”, acrescenta o diretor técnico. Aulas de socialização de cachorros, aulas de socialização para cães jovens, aulas de obediência e aulas de modificação comportamental são algumas das formações disponíveis para melhorar a relação e a comunicação entre tutores e cães.
É certo que as instalações do hospital ainda são recentes, mas as ideias continuam a fervilhar e as necessidades no terreno é que vão ditar os próximos passos, mas é certo que a mudança para as novas instalações permite crescer e expandir o espaço utilizado. “Temos quatro consultórios muito grandes que facilmente se podem transformar em seis consultórios”, garante Ricardo Baptista, acreditando que essa flexibilidade e adaptação será o segredo para ser uma referência nos cuidados veterinários no concelho de Santo Tirso.
Trabalhar em rede permite partilha de recursos e conhecimento
Com quase década e meia de história, e depois de o projeto do hospital estar em fase adiantada de construção, a equipa recebeu o convite para fazer parte do grupo OneVet.
Na realidade, surgiram várias empresas com o mesmo intuito de convidar o HVST para integrar um consórcio de medicina veterinária, mas a escolha recaiu sobe o OneVet em novembro do ano passado.
Ricardo Baptista reconhece que fazer parte de um grande grupo traz, sobretudo, “a vantagem do trabalho em rede” que permite, por exemplo, recorrer a serviços de transporte para utilizar alguma valência de uma das unidades do grupo no Porto.
Apesar de reconhecer que não foi uma decisão fácil para a equipa, afinal tinham mais de 10 anos de trabalho em conjunto, com ritmos, formas de trabalhar e de gestão já enraizadas, o diretor clínico acredita que as mais-valias de pertencer a um grande grupo fizeram desta “uma decisão acertada”. “O que mais noto é que existe uma partilha de recursos e uma simbiose [entre os vários CAMV] que permite aprimorar os serviços”, sublinha o médico veterinário, apontando as compras em grupo, a partilha de conhecimento, de recursos técnicos e as facilidades dos programas de gestão como as principais vantagens desta parceria.