O estado do ensino superior em medicina veterinária é um dos temas da próxima edição da VETERINÁRIA ATUAL*. Um dos problemas apontados pelos responsáveis das várias instituições de ensino de medicina veterinária é a preferência pela clínica de animais de companhia em detrimento de outras áreas da profissão, algumas das quais com maior empregabilidade. Aqui ficam cinco alternativas.
A medicina veterinária tem áreas que não são consideradas pelos futuros profissionais do setor. Quando chega a hora de escolher, a maioria dos futuros médicos veterinários europeus prefere clínica de animais de companhia, que já é exercida por 58% dos médicos veterinários europeus, revelou o VetSurvey, da Federação de Veterinários da Europa (FVE), em 2018.
De acordo com Rui Caldeira, presidente da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, “nos últimos anos, a educação tem ido mais no sentido da área clínica de animais de companhia e de equinos, em prejuízo das outras áreas que são também fundamentais para a sociedade que pretendemos servir como a sanidade e a clínica das espécies pecuárias, a saúde pública veterinária, a inspeção sanitária, a tecnologia alimentar e a produção animal”.
A FVE aponta Portugal como um dos países europeus com maior número de médicos veterinários por mil habitantes (cerca de 0,45) e um dos que tem mais faculdades de Medicina Veterinária.
“Julgo que esta transferência das preferências dos estudantes que nos procuram tem que ver com a imagem preponderante que os médicos veterinários têm na sociedade, até em novelas, em que se passa a ideia que um médico veterinário é um médico de animais de companhia e as outras competências não são referidas. Há estudantes que chegam à faculdade entendendo que a medicina veterinária é exclusivamente isso, mas essa imagem não é positiva, até pelas distorções que provoca no mercado de trabalho”, refere o presidente da FMV-UL.
De acordo com os dados do VetSurvey 2018 da FVE, além dos 58% de médicos veterinários que trabalham na área clínica dos animais de companhia, 14% dedicam-se à saúde pública, 11% trabalham na educação e na investigação, 4% trabalham na indústria e 12% exercem atividade noutras áreas.
Investigação
A área de investigação é parte fundamental da medicina veterinária, tal como na maioria das áreas científicas. Este setor desenvolve novos medicamentos, técnicas de preservação ambiental, além de auxiliar no desenvolvimento industrial e investigar e desenvolver novas ferramentas tecnológicas e estudos genéticos. A área da investigação ligada à medicina veterinária tem tido também uma grande importância perante a covid-19.
O exercício académico também é outra área pouco considerada.
Saúde pública
As doenças de origem animal há muito que são um risco para a humanidade e, como defensores da One Health, os médicos veterinários reconhecem que a saúde ambiental, humana e animal estão relacionadas.
Em fevereiro de 2020, Luís Montenegro, médico veterinário e diretor clínico do Hospital Veterinário de Referência Montenegro, explicava que “a prática generalizada da One Health [Uma Só Saúde] teria sido suficiente para evitar a crise que estamos a viver com a covid-19 ou, pelo menos, teria evitado que este coronavírus tivesse um impacto tão grande”.
O médico veterinário tem assim um papel fundamental na saúde pública, evitando situações como esta através de uma atuação preventiva, através da fiscalização no setor agroalimentar, na agroindústrias, evitando epidemias e controlando zoonoses.
Agricultura e pecuária
A pecuária é um setor de relevância no país e os médicos veterinários são fundamentais para assegurar a fiscalização sanitária, a inspeção os ambientes de produção e assegurar as respetivas condições de criação dos animais. Atualmente, o bem-estar animal tem sido uma exigência cada vez maior do consumidor, o que se traduz numa preocupação crescente no setor, cabendo também aos veterinários assegurar este setor.
Medicina Veterinária Desportiva
Apesar da polémica em torno da utilização de animais em competições desportivas, eventos e leilões, a presença de médicos veterinários neste setor é também elementar e assegura o bem-estar dos animais.
De acordo com a associação representante destes profissionais, tem-se verificado um aumento de profissionais dedicados à medicina veterinária de equinos. Enquanto há 25 anos o número de médicos veterinários portugueses dedicados aos equinos era de “pouco mais de uma dezena”, em 2020 são “mais de 160”.
De acordo com João Crespo, responsável pela Associação Portuguesa de Médicos Veterinários de Equinos (APMVE), esta é uma área de futuro e que tem vindo a despertar cada vez mais interesse junto dos jovens médicos veterinários.
Segundo as suas contas, atualmente, 70% dos médicos veterinários de equinos trabalham em medicina de desporto e 25% dedicam-se de forma exclusiva a esta área da medicina veterinária de equinos.
Comércio
O comércio é outra das áreas que pode ser considerada pelos veterinários, desde agropecuária a marcas farmacêuticas e outras, onde podem ser consultores ou responsáveis pela venda de rações adequadas, suplementação, medicamentos ou outros cuidados fundamentais na criação de animais.
As tendências do setor pet acompanham, cada vez mais, as tendências de produtos e serviços para humanos.
Segundo os dados do estudo Track.2Pets, da consultora Gfk, mais de metade dos lares (56%) em Portugal possui, pelo menos, um animal de estimação. O estudo refere ainda que os portugueses olham para os animais de companhia como mais um elemento da família, o que transforma o setor do comércio numa oportunidade.
*A edição de setembro de 2020 da VETERINÁRIA ATUAL estará disponível em breve e de novo em papel.