O estudo, publicado há dias no Journal of Animal Science, que negava a relação entre dietas sem cereais e a cardiomiopatia dilatada canina (CDC) foi posto em causa por vários médicos veterinários que acusaram os autores de não declarar um conflito de interesses.
A publicação em questão, uma revisão de 150 estudos realizada por médicos veterinários, incluindo especialistas em cardiologia e nutricionistas animais da consultora BSM Partners, defende ser “impossível retirar quaisquer conclusões definitivas, nestes casos, relacionando dietas específicas ou ingredientes específicos à CDC”. O estudo negava, assim, os vários alertas já realizados pela reguladora estado-unidense Food and Drugs Administration (FDA) quanto a uma potencial relação entre uma dieta natural, orgânica e sem cereais nos cães e o risco de desenvolver CDC.
Contudo, os autores do estudo não revelaram que o seu empregador, a BSM Partners, trabalha com uma marca de alimentos para animais de estimação que é mencionada num relatório da FDA com as 16 marcas de nutrição animal mais frequentemente associadas aos casos da doença e que foram reportados por clínicas veterinárias nos EUA.
Além disso, vários veterinários criticaram o estudo, considerando que não se trata de uma análise, mas uma recitação de trabalho anterior feito por outros e que poucos dos estudos analisados foram relevantes para a análise da ligação entre a dieta e a CDC, além de terem ignorado provas de que a mudança da dieta do cão reverteu a doença.
“Os autores não relataram um conflito de interesses, uma vez que não estavam a relatar dados primários de um estudo que financiaram, mas sim uma revisão de literatura, e são muito claros sobre as suas filiações de trabalho no artigo”, considerou Meghan Wulster-Radcliffe, CEO da Sociedade Americana de Ciência Animal, que publica o Journal of Animal Science, sobre as críticas.
Contudo, na sequência de inquéritos dos meios de comunicação e membros da comunidade veterinária, a Sociedade Americana de Ciência Animal emitiu uma declaração a 25 de junho – dez dias após a publicação do artigo – de que iria publicar uma correção para descrever explicitamente a relação dos autores do estudo com a indústria de alimentos para animais de companhia.
“Aconteça o que acontecer, mesmo que retirassem o artigo, ele já anda por aí”, referiu Steve Valeika, médico generalista doutorado em epidemiologia.
“Os comunicados de imprensa andam por aí, a indústria de alimentos para animais de estimação sabe, e os donos das lojas onde compram os seus alimentos já ouviram dos vendedores: ‘Eles analisaram 150 estudos!’”
Nos pacientes com CDC, o músculo cardíaco torna-se fraco e não consegue bombear sangue de forma eficiente. Os cães com a doença podem cansar-se rapidamente, podem tossir ou ter dificuldade em respirar. Além disso, podem ficar fracos, desmaiar, desmaiar ou morrer subitamente. Em raças como doberman pinschers, grand danois, Irish wolfhounds e cocker spaniels, esta condição é hereditária.
Contudo, há dois anos, cardiologistas veterinários começaram a observar a condição em raças de cães que raramente tinham desenvolvido a doença.
Os casos levaram os clínicos e investigadores a considerar o papel dos alimentos, tendo inicialmente suspeitado da dieta sem cereais.
Porém, investigações posteriores levaram os investigadores a concentrarem-se em formulações que tinham como ingredientes principais ervilhas, lentilhas ou outras leguminosas. Algumas das formulações implicadas são rotuladas como “sem cereais”, mas não todas, segundo a FDA.