A Faculdade de Medicina Veterinária (FMV) da Universidade Lusófona, em parceria com o movimento Not One More Vet (NOMV), organizou a 7 de maio um workshop dedicado ao tema “Bem-Estar Profissional em Medicina Veterinária”. Estiveram em destaque conceitos como o fenómeno do impostor, a resiliência, a autocompaixão, o burnout e a comunicação assertiva com o objetivo de diminuir os problemas de saúde mental associados à medicina veterinária.
Um sábado inteiro para falar sobre os problemas de saúde mental associados ao exercício das profissões ligadas à medicina veterinária. Esta foi a premissa do encontro promovido na Universidade Lusófona, numa parceria com o movimento Not One More Vet, que pretendeu abordar temáticas que não são muito discutidas nas equipas dos centros veterinários, mas que estão na base de muitos dos problemas que diminuem o bem-estar dos profissionais.
Nas boas-vindas aos participantes, a diretora da FMV, Laurentina Pedroso, reconheceu as dificuldades quotidianas dos profissionais que, apesar de darem o seu melhor, sabem que “é um desafio ser médico veterinário, conviver com seres que não se expressam a não ser pela nossa capacidade de reconhecer as suas expressões, usando as técnicas clínicas, vivendo uma montanha-russa de emoções, quer no contexto dos animais de companhia, mas também no âmbito de outros desafios como as espécies pecuárias e na saúde púbica”.
A importância crescente da medicina veterinária, sobretudo no contexto de saúde pública, aumenta também a pressão e o escrutínio sobre os profissionais e é sobre essa “grande pressão” que é necessário falar e desconstruir porque, como referiu Laurentina Pedroso, “no fim do dia queremos ser felizes como profissionais e como pessoas”.
Por que razão a questão da saúde mental é tão importante na veterinária?
A resposta foi dada pela médica veterinária americana Taylor Miller, também membro do movimento NOMV, recorrendo aos dados de um estudo divulgado pela Federação de Veterinários da Europa sobre a satisfação profissional, “uma medida indireta para avaliar o estado da saúde mental dos profissionais, porque se não conseguimos ser felizes na nossa profissão algo se está a passar”, explicou a oradora.
Este trabalho, que recolheu dados de 30 países, avaliou numa escala de 0 (não satisfeito) a 10 (muito satisfeito) a satisfação dos veterinários com a profissão e mostrou que a média europeia, muito semelhante à americana, foi 7, enquanto em Portugal foi de 6.1. Na questão do ambiente de trabalho a média europeia de satisfação foi de 6.4, mas em Portugal não passou dos 5.8 e na satisfação com a qualidade de vida, a média europeia foi 5.9, mas a satisfação com a qualidade de vida dos veterinários portugueses não ultrapassou os 4.9. Sobre a satisfação salarial, Portugal ficou-se pelos 4.0, enquanto a média na Europa, embora baixa, chegou aos 5.3. Para Taylor Miller, estes dados em específico “contradizem a ideia de que os veterinários apenas estão neste ramo pelo dinheiro, se estivéssemos estaríamos satisfeitos com o que ganhamos”.
Questionados sobre se voltavam a escolher a profissão, a média das respostas na Europa foi 6 e em Portugal 4.8, números que para a veterinária americana representa “uma estatística preocupante, porque esta é uma profissão extraordinária”. Sendo capazes de cuidar dos animais, de trabalhar numa profissão que permite navegar no conhecimento científico “é maravilhoso, mas está muita coisa errada na profissão e na forma como cuidamos de nós próprios”, acrescentou.
*Leia o artigo na íntegra na edição de junho de 2022 da VETERINÁRIA ATUAL