Com quase um quarto de século, a Clínica Veterinária Patas e Penas, em Setúbal, tem vindo a crescer, a apostar na contratação de profissionais, em melhores e renovadas instalações, formação de toda a equipa, novos equipamentos de exames complementares de diagnóstico e capacidade de tratamento mais célere.
Fundada pela diretora clínica Ana Mota, este CAMV vai comemorar 24 anos de existência no dia 8 de junho de 2024. Começou por oferecer serviços para cães e gatos, mas também para exóticos, nomeadamente pequenos mamíferos, uma das áreas de eleição da médica veterinária.
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Fotografia: Direitos reservados | Da esquerda para a direita: Recionista Vera Mendes, diretora clínica Ana Mota, rececionista Diogo Meira, enfermeira Telma Brito, auxiliar Tânia Godinho
Depois de terminar a licenciatura em medicina veterinária na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Ana Mota aperfeiçoou os seus conhecimentos e a sua prática clínica em estágios em Barcelona e em Paris. Trabalhou em duas clínicas no Algarve e, uma terceira, na Amora, na margem Sul do Tejo, até que resolveu ter o seu próprio espaço, numa época em que a realidade era completamente diferente da que se vive hoje. “A oferta existente atual não tem comparação”, explica, acrescentando que o investimento na formação em Portugal e no estrangeiro tem sido uma prioridade no seu percurso. À época, tanto a médica veterinária, como os colegas que a acompanharam, regressaram a Portugal com algum conhecimento acrescido e com a prática em equipamentos e exames complementares de diagnóstico que ainda não estavam tão desenvolvidos no nosso País.
O facto de esta profissão estar em constante evolução e não ser estática, obriga a “fazer mais e melhor”, daí que a formação seja uma preocupação recorrente, alargada à equipa com que trabalha. É esse dinamismo do setor que a mantém entusiasmada na liderança da sua clínica cujo mote é “Veterinários de família”, conferindo a proximidade que é dada nos cuidados prestados.
Quando abriu portas, a clínica ocupava cerca de 65 metros quadrados e, mais tarde, foi possível alugar, em primeiro lugar, e, posteriormente, comprar a loja contígua. Começou o seu negócio com uma auxiliar, que se mantém até hoje na equipa. Além do aumento do espaço, também houve um acréscimo dos profissionais que passaram a trabalhar no CAMV. Atualmente, a equipa conta com três médicos veterinários a tempo inteiro, mais duas médicas veterinárias em part-time, uma enfermeira, uma auxiliar e três funcionários, estes últimos divididos entre a receção, a parte administrativa e um colaborador que dá apoio às redes sociais, à provedoria do cliente e à informática. Destaque ainda para a pessoa que é responsável pela limpeza da clínica todas as manhãs.
“A nossa clínica é inclusiva e recrutou uma estagiária que nos chegou através da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM)”, explica Ana Mota. Depois de algum tempo de estágio profissional, passou a ter um contrato de trabalho apoiado, uma parceria entre o IEFP e o APPACDM, em agosto de 2021. “Para além da responsabilidade social ao ajudarmos muitas instituições que apoiam os animais de rua, acabamos por cumprir um pouco a nossa função social com este recrutamento.” Importa conhecer melhor a Vera Mendes. Tem agora 27 anos e atravessou a pandemia com a equipa da Patas e Penas. “Na pandemia, numa altura em que todos os funcionários estavam em casa com covid, a Vera esteve sempre comigo e com o Diogo Meira – informático e provedor do cliente – e foi uma ajuda preciosa”, conta Ana Mota. Disponível, pontual, reservada, esforçada e assídua, Vera desenvolve algumas tarefas, como por exemplo, contagem de stock, conferir encomendas e arrumar nos locais respetivos, higienização das jaulas do recobro e preparação das mesmas para receber os animais que vêm da cirurgia. Efetua ainda banhos higiénicos aos animais e efetua a sua secagem, alimenta os animais que estão no recobro e passeia-os quando necessário, ajuda na contenção animal, prepara e esteriliza o material de cirurgia, repõe o material em falta no laboratório e nos consultórios, coloca amostras de sangue nas máquinas de análises e prepara todo o material para reciclagem, colocando-os nos respetivos contentores.
Como limitações em termos de tarefas, Vera não marca consultas, não atende telefonemas nem faz cobranças. “Prefere realizar tarefas simples e repetitivas que não a façam sair muito da sua zona de conforto, mas que nos ajudam imenso. A equipa já não passa sem ela.” A diretora clínica não dispensa elogios. “É das melhores funcionárias a fazer a contenção dos animais, ajuda muito na higiene dos animais, participa nas formações que façam sentido para ela e está completamente integrada”, refere Ana Mota. Seria muito interessante, sublinha, se os colegas “ponderassem contratar jovens com deficiência ou algum tipo de necessidades especiais porque são uma enorme ajuda e, ao mesmo tempo, estão a contribuir para uma sociedade mais inclusiva”.
A equipa é composta por pessoas mais jovens, mas também seniores, havendo uma partilha de conhecimentos e formas de ver a profissão, uma sinergia entre gerações. “Os mais novos acabam por enriquecer a equipa sénior que partilham saberes e experiências, que acabam por tornar o dia a dia mais dinâmico e estimulante. Acho que há lugar para todos, mas temos de saber adaptar-nos uns aos outros”, explica a diretora clínica. Na Patas e Penas é possível aproveitar o melhor dos dois mundos: “A experiência em termos técnicos, a evidência clínica, a maturidade e o saber lidar com os clientes por parte dos seniores, com a lufada de ar fresco trazida pelos mais novos.”
Novos investimentos
Nos últimos três anos, a clínica investiu na aquisição de novos equipamentos, o que tem permitido prestar um serviço de melhor qualidade, em termos de diagnóstico, o que permite resolver situações cada vez mais complexas, de forma mais eficiente e célere. “Adquirimos um raio-X intraoral, uma ferramenta importantíssima para quem faz estomatologia e cirurgia oral. E, ainda, uma unidade dentária que nos permite fazer praticamente quase tudo nessa área.” Foi ainda possível adquirir um raio-X digital e um ecógrafo.
“Já se percebeu que todos temos a ganhar com a partilha de conhecimentos, de consultas e de casos” – Ana Mota, diretora clínica
Em maio de 2022, iniciaram-se obras de remodelação total, o que permitiu trazer maior bem-estar. “Deitámos tudo abaixo e construímos de novo com o objetivo de ter instalações mais adequadas e que proporcionam mais conforto, quer aos animais e aos tutores, quer à equipa.” O CAMV passou a ter zonas de receção específicas para cães, gatos e exóticos, diferenciadas por espécies, característica que se prolonga aos consultórios e às zonas de recobro. “A aposta na formação da equipa tem sido assegurada pois quando trabalhamos de forma honesta e íntegra, explicando ao tutor, os prós e contras de determinados procedimentos, acabamos por ver o nosso esforço reconhecido”, revela Ana Mota, sem esconder a sua satisfação pelo caminho percorrido.
Em simultâneo, tem havido a preocupação de sensibilizar os tutores para a identificação de situações que possam vir a ser eventualmente traumáticas para os animais. “As patologias mais graves que nos surgem são em animais geriátricos. Além da aposta mais permanente na medicina dentária temos vindo a investir na medicina e cirurgia de aves (também nos surgem répteis, mas a casuística é maior em pequenos mamíferos, seguida das aves) e na medicina felina.” Ana Mota confessa-se uma apaixonada por medicina felina, assinalando que os gatos “são pródigos em mascarar sintomas e não têm patologias tão evidentes, devido ao facto de não irem tanto à rua, como acontece com os cães”.
Destaque ainda para a aposta nos cuidados orais. “A Lisa Mestrinho [fellow da Academia de Odontologia Veterinária e consultora neste CAMV] ajuda-nos semanalmente a resolver situações mais difíceis na área de patologia e cirurgia oral, e de ortodontia.” Foi também a médica veterinária que deu formação de várias horas à equipa para que todos os elementos estivessem alinhados sobre a forma como deve ser recebido um cliente que procure o CAMV especificamente para uma consulta de especialidade, como é o caso da medicina dentária.
Existem vários mitos a combater e esse é um trabalho diário e contínuo. Por exemplo, permanece a ideia preconcebida – e grave – de que não vale a pena apostar em cuidados de saúde oral a partir de determinada idade. “Uma boca com inflamação, infeção, periodontite ou tártaro é uma porta de entrada para doenças em vários órgãos”, explica Ana Mota. Por outro lado, existe um grande medo e desconhecimento associado à anestesia. “Temos de fazer perceber ao cliente que a anestesia tem de ser adaptada ao paciente que temos à frente. Não existem anestesias impossíveis, mas sim, pacientes com riscos diferentes.” Cada paciente é único, e “não há que ter medo de anestesiar até porque hoje é cada vez mais seguro fazê-lo”.
Com a realização de exames pré cirúrgicos, é possível acautelar as condições em que o animal deve ser anestesiado e já tem acontecido “encontrar patologias através destes exames e que podem ser – ou não – impeditivas do procedimento”. Mas, assegura a diretora clínica, “é importante que o animal saia daqui com a situação tratada, mas o tutor ter noção de que existem outras questões que exigem uma avaliação adequada aqui ou nos seus médicos assistentes, no caso de não serem nossos clientes”.
Ana Mota defende que seria muito interessante se os colegas “ponderassem contratar jovens com deficiência ou algum tipo de necessidades especiais porque são uma enorme ajuda e, ao mesmo tempo, estão a contribuir para uma sociedade mais inclusiva”.
Já existem muitos colegas a insistir para que o exame oral comece a fazer parte de todas as consultas ou mesmo numa ida à clínica para vacinação de um animal. “É fundamental que possamos identificar as patologias de cavidade oral, desde cedo. Julgo que deveriam ser incluídas, desde logo na consulta pediátrica, as recomendações relacionadas com a importância de os animais terem cuidados orais diariamente.”
A evolução da medicina veterinária
Os clientes são cada vez mais exigentes, mas a adesão aos seguros de saúde animal acaba por facilitar o acesso, defende Ana Mota. “Temos os equipamentos e conseguimos fazer mais exames e, por outro lado, o cliente acaba por ter mais apoio financeiro das seguradoras para proporcionar mais e melhor aos seus animais.” Foi durante o confinamento que a médica veterinária começou a assistir a uma maior subscrição aos seguros de saúde para os animais de companhia.
É com positivismo que a diretora clínica tem assistido à evolução do setor ao longo dos anos. “Considero que o tutor está disposto a percorrer uma distância para tratar do seu animal. O agregado do familiar é composto por multiespécies e o animal de companhia é um membro da família e, muitas vezes, os esforços que se fazem são muito equivalentes aos que se têm com os filhos.”
Do lado dos colegas, há a destacar a maior especialização, em alguns casos. “Já temos vários colegas com o grau de especialista e que são diplomados. Eu participo em vários cursos, vou várias vezes a congressos no estrangeiro e percebo facilmente que os portugueses não estão atrás de outros e que as dificuldades que temos são transversais a outros países.”
A referenciação entre colegas é algo que traz valor acrescentado à especialidade. “Já se percebeu que todos temos a ganhar com a partilha de conhecimentos, de consultas e de casos.” Tem sido feito um esforço em dar feedback aos colegas que referenciam situações a este CAMV. “Isto dá-nos algum trabalho acrescido, mas é muito gratificante pois estamos em permanente contacto com colegas, quer aqueles que nos enviam casos, quer aqueles para os quais nós referenciamos.” Existe menos pudor e incertezas na referenciação, o que tem permitido “resolver um problema de forma mais célere, dar mais qualidade de vida e conforto aos animais”. A prioridade e o foco passam a ser “tentar resolver o problema do animal, procurar as especialidades e os colegas que temos ao nosso alcance para conseguir proporcionar um serviço de excelência aos casos que recebemos”.
“Não existem anestesias impossíveis, mas sim, pacientes com riscos diferentes” – Ana Mota, diretora clínica
O novo ano vai ser de consolidação. “Queremos aproveitar as novidades e as remodelações que fizemos. A médio prazo, gostaríamos de investir em mais equipamentos de imagem, mas temos de dar passos sustentados”, conclui Ana Mota.
*Artigo publicado na edição 178, de janeiro, da VETERINÁRIA ATUAL