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Animais de companhia

Cães e gatos podem transmitir aos tutores superbactérias resistentes a antibióticos

Cães e gatos podem transmitir aos tutores superbactérias resistentes a antibióticos iStock

Um estudo realizado em Portugal e no Reino Unido concluiu que cães e gatos podem transmitir bactérias resistentes a antibióticos aos seus tutores.

O estudo encontrou evidências de que bactérias multirresistentes foram transmitidas entre cães e gatos doentes e os seus tutores saudáveis em Portugal e no Reino Unido, “levantando preocupações sobre como os animais de companhia podem atuar como veículos de resistência e na disseminação da resistência a medicamentos essenciais”, afirmaram os investigadores.

 

As infeções resistentes a medicamentos estão a matar mais de 1,2 milhões de pessoas por ano em todo o mundo, com a projeção de que o número aumente para 10 milhões até 2050, salienta o estudo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já classificou a resistência aos antibióticos como uma das maiores ameaças à saúde pública que a humanidade enfrenta.

“Investigações recentes indicaram que a transmissão de bactérias de resistência antimicrobiana (RAM) entre humanos e animais, incluindo animais de companhia, é crucial na manutenção dos níveis de resistência, desafiando a crença tradicional de que os humanos são os principais portadores de bactérias RAM na comunidade”, afirmou Constança Pomba, investigadora principal do estudo.

 

E continua: “compreender e abordar a transmissão de bactérias RAM de animais de companhia para humanos é essencial para combater eficazmente a resistência antimicrobiana em populações humanas e animais”, enfatizou a investigadora.

A investigação vai ser apresentada no Congresso Global da Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infeciosas (ESCMID, sigla em inglês) a acontecer em Barcelona (Espanha), de 27 a 30 de abril.

 

Resultados em Portugal e no Reino Unido
O estudo envolveu cinco gatos, 38 cães e 78 humanos de 43 casas em Portugal e 22 cães e 56 humanos de 22 casas no Reino Unido. Todos os humanos eram saudáveis e todos os animais apresentavam infeções de pele e tecidos moles ou infeções relacionadas com o sistema urinário.

Os investigadores examinaram amostras fecais, de urina e de pele dos cães e gatos participantes do estudo, assim como dos seus tutores, procurando vestígios de enterobacterais (família de bactérias que inclui a E. coli e Klebsiella pneumoniae) resistentes a antibióticos comuns.

 

O foco foi virado para as bactérias resistentes “a cefalosporinas de terceira geração” (dos antibióticos mais importantes, segundo a OMS) e carbapenemas (parte da última linha de defesa quando outros antibióticos falham).

Em cinco casas, uma com um gato e quatro com um cão, tanto o animal quanto o tutor carregavam bactérias produtoras de ESBL/AmpC. A análise genética mostrou que a bactéria era a mesma, indicando que foi passada entre o animal e o tutor.

De acordo com a investigação, “não foi possível testar a direção de transmissão”, no entanto, em três dos lares em Portugal, o momento dos testes positivos para bactérias produtoras de ESBL/AmpC sugere fortemente que, pelo menos, nestes casos, a bactéria foi transmitida do animal de companhia (dois cães e um gato) para o humano.

As bactérias podem ser transmitidas de animais de companhia para humanos através de carícias, toques ou beijos, assim como através de dejetos. Para evitar a transmissão, os investigadores recomendam que os tutores lavem as mãos depois de tocar num cão ou gato e depois de tratar das suas fezes.

O estudo foi realizado no âmbito do projeto PET-Risk Consortium, coordenado por Constança Pomba e financiado pela Joint Programming Initiative on Antimicrobial Resistance.

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