Um frango de crescimento mais lento é mais saudável e feliz, segundo os resultados de um ensaio agrícola independente que envolveu a Escola Veterinária da Universidade de Bristol, no Reino Unido. O estudo aponta que a escolha de raças de galinhas de crescimento mais lento tem possivelmente mais impacto na saúde animal do que a produção de menor densidade ou maior espaço.
O estudo, realizado por investigadores da FAI Farms, da Universidade de Bristol e da Universidade Norueguesa de Ciências da Vida, é o primeiro a destacar as diferenças de bem-estar entre as aves de crescimento rápido e lento num ambiente comercial, através de um conjunto de indicadores de bem-estar positivos e negativos.
“O nosso estudo descobriu que as aves de crescimento lento têm uma saúde melhor e apresentam comportamentos mais positivos do que os frangos convencionais de crescimento rápido. Uma mudança das raças de crescimento rápido proporcionaria a melhoria mais significativa para a vida dos 142 milhões de frangos produzidos na Europa todas as semanas”, explicou Annie Rayner, investigadora principal da FAI Farms, citada pela Vet Times.
O ensaio agrícola à escala comercial analisou o bem-estar em dois aspetos, explorando os indicadores positivos e negativos de bem-estar em quatro sistemas de produção de densidades pecuárias e raças diferentes.
Uma raça de crescimento mais lento foi armazenada a uma densidade máxima planeada de 30kg/m2, uma segunda raça de crescimento mais lento a densidades planeadas de 30kg/m2 e 34kg/m2, e os resultados de bem-estar foram comparados com os de uma raça padrão de crescimento rápido armazenada a 34kg/m2.
Foi possível verificar que, na menor densidade, a raça de crescimento mais lento tinha um bem-estar ligeiramente melhor do que a outra raça de crescimento mais lento, o que foi indicado pela menor mortalidade, menos rejeições no processamento e melhor capacidade de marcha.
Já as diferenças de bem-estar da raça de crescimento mais lento, com duas densidades, eram pequenas. Contudo, foram encontradas diferenças proeminentes entre as aves de crescimento rápido (padrão) povoadas a 34kg/m2 e as aves dos outros três sistemas.
As aves-padrão apresentaram um estado de saúde mais deficiente, indicado por níveis mais elevados de mortalidade, pododermatite, além de menos empoleiramento nos fardos de enriquecimento e menos comportamentos positivos associados a “brincadeiras”.
Em suma, ao mesmo tempo se que proporcionava espaço às galinhas, ao baixar ligeiramente a densidade animal, a mudança para uma raça de crescimento mais lento resultou em aves mais saudáveis e experiências mais positivas para estes animais.
“Os frangos são motivados a realizar uma série de comportamentos positivos. Estes comportamentos positivos criam experiências positivas, resultando em gosto ou prazer. A exibição de comportamentos positivos melhora a qualidade de vida de um animal”, afirma Rayner.
Siobhan Mullan, investigadora sénior em bem-estar animal na Escola Veterinária da Universidade de Bristol, acrescentou ainda que “este primeiro ensaio independente à escala comercial fornece provas sólidas dos benefícios para a saúde e bem-estar das raças de frangos de crescimento mais lento”.
“Esperamos que ajude a impulsionar mudanças nas cadeias de abastecimento e nas grandes empresas, a fim de trazer melhorias reais ao bem-estar das galinhas”, acrescentou.
Os frangos de crescimento rápido podiam atingir 2,2 quilos em apenas 41 dias. Contudo, a procura por animais cuja criação promova o seu bem-estar tem vindo a crescer nos últimos anos, o que levou empresas como a Danpo, o maior criador de aves do norte da Europa, a pôr um fim à criação de frangos de rápido crescimento. A produtora pretende, até ao final de 2021, substituir toda a sua produção.
Ruth Newberry e Judit Vas, da Faculdade de Biociências da Universidade Norueguesa de Ciências da Vida, destacaram ainda a importância de incluir indicadores de experiências positivas nos estudos sobre o bem-estar animal: “Até há pouco tempo, a brincadeira quase nunca era mencionada nos estudos sobre galinhas.”
“Descobrimos que, quando se anda por um bando comercial, basta virar-se e olhar para trás para ver galinhas a brincar nas suas pegadas. Este era especialmente o caso dos bandos de crescimento mais lento.”