Vários investigadores e virologistas da Universidade Ghent, na Bélgica, têm realizado desde 2016 uma série de testes para identificar o efeito dos anticorpos dos lamas em diferentes tipos de coronavírus.
Em 2016, apesar de ainda não ter sido identificado o novo coronavírus, os testes realizados tinham como objetivo travar infeções por SARS-CoV-1, que deu origem à SARS, e o vírus da MERS (MERS-CoV).
Nessa data, os anticorpos de uma lama de quatro anos, Winter, apresentaram resultados positivos na neutralização dos vírus da SARS e da MERS. Agora, os investigadores repetiram os testes e aplicaram-nos ao novo coronavírus e os resultados, publicados esta terça-feira no jornal científico Cell, voltaram a ser promissores, pelo que esperam que os anticorpos possam vir a ser utilizados como tratamento profilático para a covid-19.
Um dos coautores do estudo, Jason McLellan, professor de biociências moleculares na Universidade de Austin, explicou, ao UT News, que “este é um dos primeiros anticorpos conhecidos por ser capaz de neutralizar o SARS-CoV-2”.
A ser possível, este tratamento seria profilático, ou seja, seria injetado em pessoas ainda não infetadas e a proteção seria limitada no tempo, uma vez que os anticorpos têm efeito imediato, com uma duração não superior a um mês.
“As vacinas têm de ser administradas um ou dois meses antes da infeção para proporcionar proteção”, referiu McLellan, explicando que “com as terapias de anticorpos, está a ser dado diretamente a alguém os anticorpos protetores e, por isso, imediatamente após o tratamento, estes devem ser protegidos. Os anticorpos também podem ser usados para tratar alguém que já está doente, para diminuir a gravidade da doença”.
No início desta semana foram também anunciadas duas descobertas, uma nos Países Baixos e outra em Israel, de “anticorpos monoclonais” humanos capazes de travar o vírus.
Investigação e resultados
Winter vive numa quinta no interior belga, juntamente com outros 130 lamas e alpacas. A sua participação no estudo, que teve início em 2016, começou quando tinha nove meses.
Num processo semelhante ao estudo em seres humanos, que recebem injeções para os imunizar contra um vírus, Winter foi injetada com proteínas estabilizadas do vírus durante seis semanas.
Posteriormente, foram recolhidas amostras de sangue e anticorpos isolados que se ligaram a cada versão da proteína dos “spikes”.
Um dos anticorpos era capaz de impedir um vírus que apresentava proteínas “spike” do SARS-CoV-1 de infetar células em cultura.
Recentemente, a equipa desenvolveu o novo anticorpo, que poderá ser utilizado para tratar o novo coronavírus, através da ligação de duas cópias de anticorpos do lama que funcionaram no caso da SARS, demonstrando que este neutraliza os vírus com proteínas “espigão” do SARS-CoV-2 em culturas celulares.