Será que os detentores dos animais de companhia procuram informação médico-veterinária da mesma maneira que procuram para si? Estará a inexistência de diretrizes de comunicação médico-veterinária a afetar as decisões médico-veterinárias que os detentores dos animais de companhia tomam?
Nos últimos anos tem-se vindo assistir à humanização dos animais de companhia, com cada vez mais detentores a considerarem o seu animal de companhia como um filho, a procurarem mais serviços/produtos de valor acrescentado como se fosse para si e, por conseguinte, a tomarem decisões como se um membro da família se tratasse. Como o detentor é o decisor, este espera que a informação médico-veterinária que procura/encontra seja igual à procura/encontra para si.
Num mercado em que os serviços/produtos que constam do portfólio são muito semelhantes aos dos concorrentes, torna-se fulcral comunicar o valor destes e investir no desenvolvimento de estratégias de marketing e comunicação, contudo, a comunicação médico-veterinária além de ser uma área recente é pouco explorada, o que se traduz numa ausência de diretrizes de comunicação e na disparidade da mesma. O consumidor ideal não é o consumidor real (Himmelweit, 2014) e, no caso do setor médico-veterinário, os cuidados médico-veterinários prestados são influenciados pela relação detentor – médico(a)-veterinário(a), detentor – animal de companhia e pela literacia do detentor (Solhjoo et al., 2019). Por isso, é importante que o(a) médico(a)-veterinário(a) perceba qual o nível de literacia do detentor com que está a lidar, de forma a conseguir estabelecer uma comunicação de parceria com o mesmo, tendo em conta o background do mesmo. Os detentores que procuram informações médico-veterinárias têm a intenção de as utilizarem em todas as decisões relacionadas com a saúde do seu animal (Solhjoo et al., 2018), interpretando a mesma em função da saúde do seu animal de companhia, o que resulta numa boa e adequada prestação de cuidados médico-veterinários (Solhjoo et al., 2019).
Estarão os detentores dos animais de companhia a conseguirem obter, compreender, interpretar e aplicar a informação que é relevante para a saúde do seu animal de companhia? Com o intuito de dar resposta a esta questão e a perceber se os domínios da literacia médico-veterinária do detentor do animal de companhia são os mesmo da literacia da saúde (obter, compreender, interpretar e aplicar (Sørensen et al., 2015)), e de se compreender a influência da estratégia da comunicação médico-veterinária na literacia médico-veterinária do detentor do animal de companhia, realizou-se uma investigação de metodologia quantitativa, tendo-se obtido 3014 respostas válidas distribuídas de forma proporcional pelas NUT II, através do questionário partilhado.
Analisando os dados obtidos constatou-se que os domínios da literacia médico-veterinária do detentor do animal de companhia, conceito que resulta desta investigação, diferem dos da literacia da saúde, dado que se verificou que a mesma é composta pelo processamento da informação médico-veterinária, qualidade da informação médico-veterinária, e que a literacia médico-veterinária do detentor é explicada em 33,0% pela comunicação médico-veterinária. É, portanto, fulcral investir na comunicação, dado que um detentor com elevado nível de literacia médico-veterinária tende a escutar mais o(a) médico(a)-veterinário(a), a tomar decisões com base nesta informação, e a prestar mais cuidados, inclusivamente preventivos, ao seu animal de companhia.
Dado que não existem diretrizes de comunicação médico-veterinária, e um dos objetivos desta investigação era a criação de diretrizes/guidelines, sugerem-se os seguintes ao setor médico-veterinário:
- Animal de companhia como um membro da família;
- Fomentar a relação detentor – animal de companhia de forma a este saber reconhecer sinais/comportamentos/sintomas estranhos;
- Comunicar à semelhança da comunicação pediátrica (mais de 90% dos inquiridos consideram o seu animal como um filho), embora haja outros tipos de ligações;
- Mensagem customizada: comunicar por idade ou por raça ou por idade/raça, dado que uma mensagem generalizada leva a uma sensibilização, mas não a uma mudança de comportamento;
- Divulgar importância dos cuidados preventivos, como por exemplo, vacinação, esterilização/castração, subscrição de um seguro médico-veterinário, sugestão de check-ups anuais, tratamentos médicos, técnicas de primeiros socorros, tratamentos médicos, medicação, cuidados a ter em caso de doenças/lesões crónicas (…);
- Promover de forma percetível os serviços/produtos de valor acrescentado que constituem o portfólio;
- Comunicação nas plataformas digitais é essencial, se possível com mensagens, quizzs, jogos e outras dinâmicas que promovam uma ligação entre o detentor do animal de companhia e a clínica/hospital em questão;
- A comunicação/mensagem deverá ser clara, coerente e de fácil compreensão, sendo que deve transmitir confiança e estar disponível em diferentes formatos.
Pretende-se que através destas diretrizes de comunicação médico-veterinária haja a promoção da saúde animal e dos cuidados médico-veterinários, levando à educação e mudança de comportamentos dos detentores dos animais de companhia.
*Artigo com base na Dissertação de Mestrado de Gestão de Marketing (IPAM): A relação entre a comunicação médico-veterinária e a literacia médico-veterinária do detentor do animal de companhia.
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