A profilaxia é essencial para assegurar a longevidade e a qualidade de vida dos animais. Para os CAMV e as equipas veterinárias, a prevenção faz parte da prática clínica diária. Para os tutores, a sensibilização é maior atualmente, mas é preciso não descurar a partilha de informação e aconselhamento.
A aposta na medicina veterinária preventiva tem ganhos, nem sempre visíveis no imediato, mas fundamentais a médio, longo prazo, conduzindo a uma poupança de dinheiro por parte dos tutores e à garantia de longevidade e melhor qualidade de vida dos animais de companhia.
Esta é uma premissa que os vários CAMV têm em consideração levando a que os profissionais de medicina veterinária tentem sensibilizar os tutores de que “é sempre mais fácil e benéfico prevenir do que tratar doenças”, defende Daniela Moreira, diretora clínica da Animavet – Clínica Veterinária de Lousada. “Os principais aspetos sobre os quais incidimos com maior foco passam pela vacinação e desparasitação (interna e externa), que são adaptadas de uma forma particular ao animal que temos pela frente, tendo em conta uma série de fatores, como o ambiente onde vive, possibilidade de acesso ao exterior, viagens para outras zonas geográficas, contacto com outros animais, etc.”, sublinha.
Neste CAMV, a equipa dedica também muito do tempo em consulta a aconselhar os tutores sobre a importância da nutrição. “Numa altura em que há tanta oferta no mercado, é natural que alguns tutores possam ter dificuldades na escolha do melhor alimento a dar ao seu animal e creio que, nós, médicos veterinários, temos um papel importante neste aconselhamento.” A diretora clínica defende que, mais do que aconselhar uma marca X ou Y de um determinado alimento, “é importante educar o tutor a aprender a ler rótulos, a saber o que escolher e o que evitar, dando assim ferramentas que lhe serão úteis durante toda a vida daquele animal”.
Existe um esforço na equipa da Vilavet, em Vila Real de Santo António, para que, “nas consultas profiláticas haja uma abordagem a conceitos nutricionais, a prevenção de problemas comportamentais, doenças degenerativas e também a higiene oral. Este último tema, apesar de muitas vezes descurado pelos tutores, representa um problema com contornos sérios”, explica Ivo Lima da Silva. O diretor clínico defende que “os animais com graves infeções dentais, que convivem com os tutores em proximidade, aumentam o risco à exposição a agentes patogénicos por parte das famílias”.
  “Como vivemos numa região com grande prevalência de leishmaniose tem sido mais fácil fazer ver ao tutor que a prevenção é o melhor remédio” – Cláudia Correia, Alcabidechevet
Desde a primeira consulta que a equipa da Alcabidechevet incute no tutor toda a responsabilidade de ter um animal. E isso passa por sensibilizar de que “precisa de cuidados médicos; de atenção e de disponibilidade de tempo para a sua educação”, explica a médica veterinária e diretora clínica Cláudia Correia. No que respeita aos cuidados médicos, a insistência na vacinação e na desparasitação interna e externa é corroborada pela identificação dos riscos que se correm quando tal não é acautelado. “Como vivemos numa região com grande prevalência de leishmaniose tem sido mais fácil fazer ver ao tutor que a prevenção é o melhor remédio.” Na primeira consulta, são dados ainda conselhos sobre comportamento e sobre nutrição, expondo as várias tendências de alimentação canina e felina (ver caixa). “Como linha de pensamento nutricional, entendo que a diversificação alimentar aporta grandes benefícios para a sua saúde e gosto que os meus pacientes comam, tanto dietas comerciais como caseiras, fornecendo sempre as quantidades e proporções de cada grupo de nutrientes.”
Alexandre Anjos, diretor clínico da Clínica Veterinária dos Navegantes (CVN), em Vila do Conde, considera que é crucial que a abordagem em consulta seja “mais detalhada, descritiva e faseada”, para que seja possível apostar na prevenção. As vacinas e desparasitações são importantes para todos os animais e de todas as idades. “É importante alertar os tutores que os planos [de desparasitação/vacinação] podem divergir, dependendo da zona geográfica do país em que se encontram”, refere. Também nesta clínica, a nutrição assume lugar de destaque, pois constitui uma das dúvidas mais frequentes dos tutores. “Atualmente, há demasiada (des)informação, demasiadas marcas, demasiada publicidade. Como médico veterinário tento sempre perceber que ração usam e se os animais se encontram bem – ou não – com essa alimentação.” O diretor clínico define-se como um pouco “old school” no que se refere a esta questão, pois acredita mais nas alimentações que têm mais tempo no mercado, com provas dadas e que são de gamas veterinárias. “Tenho demasiados casos de animais que reagem mal a alimentações ditas ‘naturais’.” Nas consultas, surgem outros temas para abordar, como os exames de rotina, a questão da esterilização e a higiene, no seu geral.
Quanto às outras questões de prevenção, o tempo vai permitindo abordá-las. Por exemplo, a questão da esterilização, os exames de rotina, a higiene no seu geral, a higiene oral e as doenças típicas de cada raça. Mas, explica: “É importante falar destas questões, mas em tempos separados. Os tutores têm uma capacidade seletiva do que querem ouvir e nem sempre conseguem captar tudo o que lhes dizemos.” Para os médicos veterinários e para a equipa é importante ter uma check-list para que percebam, em cada consulta, que temas já foram abordados com cada cliente. “Consoante a importância e a pertinência de cada tema a abordar, em dado momento, os profissionais devem informar atempadamente e de forma percetível toda a informação, ajustando-a a cada cliente.”
Tutores mais sensibilizados?
“A minha perceção é a de que, cada vez mais, os tutores têm mais informação do seu lado e, por conseguinte, têm uma maior consciência da importância da aposta na prevenção”, explica Daniela Moreira. Comparando a atualidade com a realidade com que se deparou no começo da sua vida profissional, há cerca de dez anos, nota que há “uma grande diferença na sensibilidade e na predisposição dos tutores para prestarem cuidados profiláticos. Se, nessa altura, o mais comum era recebermos os animais unicamente uma vez por ano, para a consulta de vacinação anual, e quando havia algum episódio de doença, atualmente, a grande maioria dos tutores percebe a importância de prestar cuidados regulares e, por isso, as visitas são mais frequentes”.
Na prática clínica da Animavet, vai sendo cada vez menos comum o surgimento de casos de doenças infeciosas, como esgana, ou febre da carraça, assim como, piómetras, por exemplo. “Isto deve-se, em grande parte, ao trabalho de consciencialização que tem sido realizado por todos nós, médicos veterinários, nos últimos anos”, assinala a diretora clínica.
Apesar de nem todos os tutores apresentarem o mesmo grau de educação ou preocupação com o tema, na opinião de Ivo Lima da Silva, denota-se “uma consciência da necessidade de, pelo menos, uma visita anual para vacinação”. A medicina preventiva é na sua essência, “a base de uma vida longa e saudável”, adianta. Considerando que o protocolo vacinal deve ser adaptado à região em que os animais vivem e o programa de desparasitação ajustado ao seu estilo de vida, na Vilavet existe a preocupação de “controlar também os riscos zoonóticos nos animais de companhia e na produção animal, o que representa o conceito de Uma Só Saúde“.
“A minha perceção é a de que, cada vez mais, os tutores têm mais informação do seu lado e, por conseguinte, têm uma maior consciência da importância da aposta na prevenção” – Daniela Moreira, Clínica Veterinária de Lousada
Cláudia Correia considera que a maioria dos clientes está esclarecida e habituada às rotinas de vacinação. “Desde a pandemia de Covid-19 que a vacinação faz parte da rotina das famílias e o que antes era mais difícil de explicar, atualmente tornou-se muito mais fácil porque as pessoas percebem o poder de uma vacina na prevenção de doenças.” Na Alcabidechevet deu-se um importante acréscimo de vacinação contra a gripe, sobretudo em gatos, também porque passou a ser mais simples explicar aos tutores a sua importância. Até então, era algo “levado com mais ligeireza pelos tutores. Agora, ao explicar como a gripe felina é semelhante à Covid-19, recebo toda a atenção e cooperação dos tutores”.
Com o tempo, a comunicação sobre a relevância da profilaxia, tem sido mais fácil com os clientes, defende Alexandre Anjos. “Muitos deles já estão devidamente informados porque têm outros animais e/ou já tiveram. Mesmo no caso de tutores de primeira viagem já chegam à clínica mais bem informados, ou porque falaram com alguém que tem animais ou porque fizeram pesquisas na internet. Cabe-nos a responsabilidade de indicar ou direcionar no sentido que acreditamos ser o melhor.” Em oito anos de prática clínica na Clínica Veterinária dos Navegantes, têm surgido, com o passar do tempo, menos clientes com as vacinas ou as desparasitações em atraso. Para isso tem contribuído o envio de mensagens/lembretes quando se aproxima a data destas rotinas. “As outras questões da profilaxia são facilmente relembradas nestas visitas periódicas”, adianta.
Também na Clínica Veterinária de Lousada é privilegiada uma relação de proximidade e de fidelização dos clientes, pelo que a prática clínica caracteriza-se pelo envio automatizado de lembretes, via SMS ou e-mail, para avisar os clientes da necessidade de vacinação, desparasitação, check-up regular em geriátricos, consultas de higiene oral, análises regulares de rotina em pacientes crónicos, entre outros. “Desta forma, conseguimos uma maior colaboração por parte dos tutores no cumprimento das recomendações sugeridas pelo médico veterinário assistente”, explica Daniela Moreira.
O estudo de mercado sobre a “Relação Tutor-Veterinário”, publicado recentemente pela VetBizz Consulting, em parceria com a 2Logical, concluiu que 36% dos tutores de cães levam o seu animal duas vezes por ano aos CAMV. Foram ainda estudados os padrões de consumo dos tutores, no que respeita à alimentação, à compra de brinquedos/acessórios e snacks, como produtos mais adquiridos, e a loja física como local de compra preferencial. Os diretores clínicos entrevistados para este artigo acederam aos resultados deste estudo e comentam as conclusões do mesmo em comparação com a sua prática clínica. Daniela Moreira indica que os resultados estão em linha com a realidade clínica da Animavet. “A maioria dos tutores desloca-se com o seu animal à clínica uma a duas vezes por ano, sendo menos comuns os casos em que temos apenas uma visita, que geralmente ocorre em situações de urgência.” O enfoque na medicina preventiva tem permitido aumentar o número de visitas anuais e, por consequência, “criar uma melhor sinergia e relação de confiança médico – tutor”, afirma.
Ivo Lima da Silva considera este estudo online e estatístico “interessante”, que representa cerca de 500 tutores que escolheram as suas respostas. “Os resultados demonstram que se tem vindo a combater o fraco acompanhamento que alguns tutores ofereciam no passado aos seus animais”. E, justifica: “Num universo de mais de três milhões de animais de companhia registados em Portugal, considero que abre as portas a uma temática interessante, a do estudo aprofundado da relação dos portugueses com os seus animais de companhia.”
Também para Cláudia Correia, as conclusões deste estudo são válidas, pelo menos na área urbana onde se localiza a Alcabidechevet. “Como é sabido, as visitas ao veterinário são mais frequentes na pediatria e na geriatria e os anos intermédios são mais parcos em idas ao veterinário, na maioria das vezes, só para as consultas vacinais e só nessas ocasiões vemos os nossos pacientes.” O primeiro ano é, portanto, um período essencial para sensibilizar e ensinar o tutor para que se dirija à clínica sempre que há um problema. “Depois, durante a vida do pet, o tutor está habituado ao nosso apoio e procura-nos sempre que necessário. Quando chega a fase da geriatria, estamos presentes para apoiarmos clinicamente o nosso paciente e este é um período em que as visitas à clínica aumentam muitíssimo.” Nesta fase, entram em campo “todas as ajudas possíveis para que os últimos anos de vida do animal sejam passados de forma saudável e tranquila, sem dor e com muito apoio veterinário”.
Na Clínica Veterinária dos Navegantes, as percentagens de visitas à clínica está um pouco acima das conclusões deste estudo. “Temos cerca de 39% que visita a clínica entre uma a duas vezes, mas, 71% dos clientes visitam mais vezes, sendo que 20% dos nossos clientes visitam mais de seis vezes”, explica Alexandre Anjos. Estes valores estão muito representados pelos serviços e produtos de profilaxia, principalmente vacinas.
Os animais são cada vez mais encarados como um elemento da família e, portanto, “é natural que os tutores estejam mais atentos e predispostos a apostar na prevenção, à semelhança do que ocorre na medicina humana”, assinala Daniela Moreira. Esta opinião é corroborada por Ivo Lima da Silva que considera que o nível de preocupação dos tutores com a saúde e o bem-estar dos seus animais de companhia são hoje mais assinalados. “A oferta de serviços e produtos direcionados para estes animais contribui para uma maior atenção a todos os níveis: profiláticos, tratamentos e serviços não veterinários.”
Na Alcabidechevet, esta situação não é recente. “Felizmente”, assegura Cláudia Correia. “Desde que comecei a trabalhar que atendi tutores preocupados com a saúde do seu pet. A vacinação e a desparasitação sempre foram vistas como uma necessidade e não como uma ideia descabida dos veterinários para ganharem dinheiro.” Ainda assim, com o passar dos anos e, apesar de considerar que ainda existe um longo caminho a percorrer, tem notado “uma evolução brutal na mentalidade dos tutores”.
“Estamos muito atentos à alimentação e ao comportamento porque sabemos que grande parte das patologias estão associadas a estes fatores” – Alexandre Anjos, Clínica Veterinária dos Navegantes
Quanto mais preocupados e atentos os tutores estão, mais seguem à risca todos os cuidados com os seus pets, sublinha Alexandre Anjos. “Nós temos um papel fundamental para direcionar essa humanização no caminho correto, mesmo que o tutor, por vezes, não concorde connosco.” O diretor clínico denota que, por vezes, os médicos veterinários têm algum receio de serem sinceros com os tutores mesmo quando percebem que estes estão a fazer algo errado, principalmente no que toca à educação dos seus animais. “A saúde do animal começa na parte comportamental. É importante explicar aos tutores que aquele pet tem necessidades específicas.”
Prevenção sazonal
Apesar de o foco na medicina preventiva ser uma constante na prática clínica diária ao longo de todo o ano, consoante a estação do ano, os médicos veterinários vão ajustando as suas recomendações, incidindo um pouco mais nas patologias que surgem com mais frequência em determinada época. “Um exemplo óbvio diz respeito ao aconselhamento sobre desparasitação externa nos meses de primavera e verão. No entanto, tendo em conta o impacto das alterações climáticas no ciclo de vida dos parasitas, desde há vários anos que temos vindo a recomendar uma proteção regular e contínua ao longo de todo o ano, mesmo em animais que vivem exclusivamente dentro de casa”, explica Daniela Moreira.
Nos meses de outono, atribui-se um particular enfoque na prevenção de leishmaniose, por ser a altura do ano em que os flebótomos transmissores da doença se encontram mais ativos. Nos meses de inverno, há que ter em consideração a diminuição das temperaturas, o que pode condicionar a agudização de sinais clínicos relacionados com a doença osteoarticular. Por isso, nesta época do ano, a equipa da Animavet redobra o aconselhamento sobre a prevenção, sobretudo em animais geriátricos. “Nos meses de verão, tendo em conta o aumento do número de viagens com os animais, ajustamos também as nossas recomendações profiláticas à zona geográfica para a qual o animal se desloca, relativamente à prevenção de doenças que, sendo endémicas em determinadas zonas, são pouco frequentes na zona geográfica onde nos encontramos, como é o caso, por exemplo, da dirofilariose”, explica a diretora clínica.
Na Vilavet existe a preocupação de “controlar também os riscos zoonóticos nos animais de companhia e na produção animal, o que representa o conceito de Uma Só Saúde“, explica Ivo Lima da Silva
Na Alcabidechevet, também o plano vacinal é programado para o primeiro ano de vida e vai sendo adequado ao tipo de vida dos animais. Além das vacinas essenciais, obrigatórias e as que são aconselhadas, a desparasitação também deve ser programada. Por exemplo, a interna deve acontecer quatro vezes por ano, a externa pode ser mensal ou trimestral, a prevenção de leishmaniose deve ser realizada com spot on ou coleiras e a prevenção da dirofilariose deve ser ainda programada, “ainda que na nossa zona não seja preocupante, mas devido a viagens para outras zonas do país que são consideradas endémicas”.
Abordagem holística
Está longe de ser consensual a ideia de que os tratamentos alternativos à medicina convencional, tornando a abordagem mais holística, seja a estratégia mais eficaz. Daniela Moreira e Alexandre Anjos não têm experiência concreta com a maioria das técnicas utilizadas e, por esse motivo, não têm uma opinião formada sobre o tema. A diretora clínica da Animavet denota, no entanto, que esta área está em “franco crescimento”.
Considerando que faz sentido avaliar os animais que são recebidos em consulta como um todo (conceito defendido pelo holismo) e não tanto focarem-se única e exclusivamente no problema particular que o leva até à clínica, Daniela Moreira considera que é preciso questionar o tutor sobre os diferentes aspetos da vida daquele animal (ambiente, nutrição, comportamento, etc.), para conseguir ter uma visão mais alargada, o que nos facilita o diagnóstico e, consequentemente, o plano terapêutico.” É esta a abordagem holística que reconhece, por exemplo, no que respeita a alguns problemas físicos recorrentes – como otites, cistites e dermatites) – que têm, por diversas vezes, uma componente comportamental e/ou ambiental como causa, ocorrendo com mais frequência em animais com elevados níveis de stress / ansiedade. “Nestes casos, é importante conhecer todo o ambiente geral para conseguirmos ajudar aquele animal de uma forma mais completa e eficaz.”
A medicina é, em si, holística, defende Ivo Lima da Silva. “E deverá sempre abordar os seus pacientes como um individuo completo. Essa é a definição de holístico. Um problema dermatológico poderá ser de origem endócrina. E a alteração endócrina de origem neoplásica. Mais, algumas abordagens em medicina veterinária são holísticas ao ponto de a intervenção ser ao nível da relação do tutor com o seu animal.” Ter maus padrões alimentares, falhas emocionais e afetivas, problemas de foro mental dos tutores repercutem-se no bem-estar dos animais de estimação. “A nossa intervenção é, muitas vezes, ao nível de todo o agregado familiar, para obter os melhores resultados na resolução de problemas.” É esta a abordagem holística e multidisciplinar que o médico veterinário defende e que considera que se perde, muitas vezes, “ao ser aproveitada pelas terapias alternativas como se fosse algo que só os terapeutas alternativos tivessem para oferecer aos seus pacientes”.
Também Alexandre Anjos defende a abordagem holística, como a capacidade de ver “o animal como um todo”. “Estamos muito atentos à alimentação e ao comportamento porque sabemos que grande parte das patologias estão associadas a estes fatores.” No que respeita à parte do tratamento, assume que não tem experiência nem formação nas terapias ditas alternativas, uma vez que a CVN segue sobretudo a medicina convencional. O diretor clínico arrisca a afirmar que “os clientes da zona onde se localiza a clínica dificilmente aceitariam uma abordagem holística para os seus animais de companhia”, mas ressalva que “não tem conhecimento suficiente para os tratamentos ditos alternativos, para ter uma opinião concreta sobre os mesmos”.
“Se, nessa altura, o mais comum era recebermos os animais unicamente uma vez por ano, para a consulta de vacinação anual, e quando havia algum episódio de doença, atualmente, a grande maioria dos tutores percebe a importância de prestar cuidados regulares e, por isso, as visitas são mais frequentes” – Daniela Moreira, Clínica Veterinária de Lousada
O objetivo dos profissionais de medicina veterinária é manter o animal “saudável tratado e feliz”, defende Cláudia Correia que, por vezes, gosta de pensar na medicina como “um grande bolo com variadíssimos ingredientes, em que o principal é a medicina tradicional ou convencional, mas, em determinadas situações, podem juntar-se áreas, como a acupuntura, a ozonoterapia e a alimentação natural”. A médica veterinária considera que “tudo o que possa ajudar a medicina convencional a trazer melhores resultados é um ganho para os médicos e para o animal”. E, a alimentação natural e um bom controlo da dor “são situações muito benéficas para o bem estar do paciente, o que por sua vez leva a recuperações mais rápidas”. Especialmente na fase geriátrica do animal, Cláudia Correia considera que é importante contar com este apoio. “Aconselho vivamente terapias, como a acupuntura para melhorar o bem-estar do nosso paciente geriátrico.”
Primeira consulta da Alcabidechevet
Cláudia Correia, médica veterinária e diretora clínica da Alcabidechevet, resume as explicações que são dadas numa primeira consulta, em que é partilhado um resumo do que vai acontecer nesse primeiro ano de vida.
– Procedimentos clínicos:
*Esterilização precoce, principalmente nos felinos.
*Esterilização dos canídeos – Não há a necessidade de tanta precocidade porque está comprovado que deve ser adquirida uma certa maturidade a nível endócrino/imunitário/nervoso, antes de se realizar tais procedimentos. E a sua realização precoce leva a um aumento da probabilidade de aparecimento de doenças autoimunes, como a atopia, anemias imunomediadas, entre outras.
À medida que a idade avança, é aconselhado um check-up anual com ecografia abdominal, ecocardiografia e análises sanguíneas completas, exames estes que permitem, muitas vezes, atuar atempadamente e sem ser de urgência, em situações muito graves e em que o prognóstico é muito mais reservado. Por exemplo, retirar baços com nódulos pequenos que, ao fim de uns meses, seriam um tumor enorme e, muitas vezes, com rutura.
– Deve ser iniciado o tratamento precoce de doenças, como a diabetes, a insuficiência renal, a hipertensão arterial, o hiper e hipotiroidismo.
– Na primeira consulta, é importante explicar as principais fases da vida do pet em termos clínicos (jovem/adulto e geriátrico) e como vão sendo necessários novos e mais regulares exames à medida que a idade avança.
– Existe um cuidado redobrado na explicação dos riscos de obesidade, sedentarismo e da falta de higiene oral, principalmente nas raças mais sensíveis a estes fatores.
– É feito um plano vacinal que permita ao pet socializar ao máximo e, o mais cedo possível, para que, em termos comportamentais, não seja afetado. Um cachorro que só vai à rua e que só socializa depois dos quatro meses é um cachorro que tem muito mais hipóteses de apresentar fobias, medos e acabar por ser agressivo. Portanto, insisto para que os tutores socializem ao máximo os seus animais logo a partir dos dois meses tendo, obviamente, cuidados e bom senso no modo como o fazem.
– As vacinas têm evoluído muito nas últimas décadas e posso garantir que os animais “bem” vacinados podem “sair de casa” sem qualquer problema. Contam-se pelos dedos de uma mão os animais vacinados na nossa clínica que tenham apanhado, por exemplo, parvovirose.
*Artigo publicado na edição 178, de janeiro, da VETERINÁRIA ATUAL