A vice-presidente da OMV e diretora clínica do Anicura Atlântico Hospital Veterinário, Sónia Miranda, vai marcar presença nas Conferências Veterinária Atual como oradora da Mesa-redonda: Posicionar o CAMV em áreas específicas da veterinária. Em entrevista, fala sobre as suas expectativas para o evento, que decorre no dia 27 de setembro, no VIP Grand Hotel, em Lisboa.
Quais são as suas expectativas para as Conferências Veterinária Atual deste ano, com foco na diferenciação dos CAMV e na resistência antimicrobiana? Que importância apresentam estes temas?
Concordo inteiramente com a escolha destes temas para uma conferência que se pauta pela excelência na discussão da atualidade na medicina veterinária. A diferenciação dos CAMV nunca se apresentou com tanta inevitabilidade como nos dias de hoje. A evolução e a especialização dos cuidados médico-veterinários acompanham a evolução do papel dos animais de companhia na sociedade atual, levando a um grau de exigência no diagnóstico e obviamente na capacidade de tratamento.
Ainda no rescaldo de uma pandemia, é consensual que “uma só saúde” é a forma mais realista de todos nos posicionarmos perante as ameaças patológicas que todos os seres vivos estão expostos neste planeta. A resistência antimicrobiana será provavelmente a maior ameaça que todos teremos de enfrentar nos próximos tempos. Deveremos construir políticas responsáveis, juntamente com a medicina humana, que permitam a utilização racionalizada de antibióticos.
  “A evolução e a especialização dos cuidados médico-veterinários acompanham a evolução do papel dos animais de companhia na sociedade atual, levando a um grau de exigência no diagnóstico e obviamente na capacidade de tratamento”
A mesa-redonda da qual faz parte está focada no posicionamento dos CAMV em áreas específicas da veterinária. Cada vez mais tutores procuram para os seus animais de companhia os mesmos cuidados de saúde que exigem para si, aumentando a urgência de serviços direcionados para áreas específicas da veterinária. Como caracteriza esta tendência no mercado da veterinária?
Esta tendência acompanha a evolução que a sociedade tem feito no posicionamento do animal de companhia na dinâmica das famílias. A perspetiva das necessidades de cuidados médicos na saúde animal, tem como exemplo as necessidades que existem na medicina humana. Isto implica obrigatoriamente com a qualidade de serviço disponível no mercado da veterinária, desde os meios de diagnóstico e a especialização médica, à capacidade de resposta terapêutica. A longevidade dos animais tem acompanhado esta evolução, exigindo cada vez mais uma capacidade de resposta na fase geriátrica, em patologias crónicas e em oncologia, por exemplo. A exigência desta abordagem leva a que cada vez mais se setorize por especialidade o exercício da medicina veterinária.
“A resistência antimicrobiana será provavelmente a maior ameaça que todos teremos de enfrentar nos próximos tempos”
Como se reflete a crescente preocupação dos tutores e da sociedade em geral pelo bem-estar dos animais de companhia no exercício da profissão do médico veterinário?
O tema do bem-estar animal ocupa um espaço social e até político muito importante na sociedade atual. O bem-estar nunca poderá se separar do que é a saúde animal. A disponibilidade e exigência dos tutores nesta área é crescente, o que leva a que seja obrigatoriamente necessária uma adaptação do setor veterinário à diferença cada vez mais marcada de exigência e capacidade financeira dos tutores. A medicina veterinária não é comparticipada, paga IVA de 23% e o poder de compra média dos portugueses continua baixo. O que mudou mesmo, foi o posicionamento da importância da saúde animal no orçamento familiar, levando a que se pratique cada vez mais uma medicina veterinária sustentada por diagnósticos e tratamentos assertivos.