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Startups

Nova plataforma permite diagnósticos automáticos à distância de um clic

Simatix

Imagine que existia uma ferramenta de análise de radiografias capaz de extrair informação invisível a olho nu. E que fizesse um diagnóstico automático de cada caso através de uma base de dados com milhares de imagens de raios X de situações similares. É o que propõe a Simatix, uma startup de biotecnologia liderada por Ricardo Faustino, que decidiu aplicar os seus conhecimentos de imagiologia humana à medicina veterinária numa clara demonstração na prática do conceito Uma Só Saúde.

“Em 2015 tive de levar o meu cão ao veterinário, onde acabou por fazer vários exames imagiológicos. Foi nessa altura que percebi que havia uma necessidade dentro da área da imagiologia veterinária e que esta poderia ser mais desenvolvida”. Ricardo Faustino tem formação em Radiologia e Biologia e trabalhou durante cinco anos no Instituto de Ciências Aplicadas à Saúde, em Coimbra. Atualmente está a finalizar o doutoramento em Ciências da Saúde na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

“A minha formação de base é Imagiologia Médica Humana e, embora a medicina veterinária tenha evoluído muito, notei que havia discrepâncias. Percebi que a imagiologia veterinária estava muito focada no raio X e na ecografia. Hoje em dia, o número das TACs está a crescer, começa a haver alguns equipamentos de ressonância, mas falta um saber fazer”.

Até que surgiu a ideia: “e se fossemos capazes de desenvolver ferramentas de análise de imagens que permitissem extrair mais informação a partir das imagens de radiografia? Poderia dar um apoio extra aos consultórios mais isolados das grandes cidades”. Até que se deparou com um problema: “para poder fazer este tipo de desenvolvimento eram precisos dados, mais imagens, por uma questão de estatística. Então começámos a elaborar uma base de dados, alimentada por amigos veterinários, até que surgiu a ideia de criar uma plataforma”.

A ideia é simples: através da imagem conseguir obter outras informações invisíveis a olho nu. “Por exemplo, num osso, posso ter duvidas se há uma fratura ou não por causa das densidades. Conseguimos desenvolver uma ferramenta para perceber se um padrão é típico de uma fratura ou não. Outro caso que tivemos e funcionou envolveu uma cadela que tinha suspeita de neoplasia – cancro da mama – e não se sabia se o que aparecia na imagem eram calcificações. Conseguimos perceber que naquela zona existiam mesmo calcificações e foi operada com sucesso”.

A longo prazo, a ferramenta pode ter várias aplicações, como por exemplo a nível pulmonar. “Podemos procurar diferenças de densidade precoces. O nosso olho tem limitações na escala de cinzentos e, usando um software, somos capazes de criar gráficos, de quantificar dados da imagem e ver pequenas alterações que poderiam passar despercebidas”, refere.

Mas isso é o projeto a longo prazo. A médio prazo, a ideia passa por criar uma plataforma com o intuito de “ser uma ferramenta útil aos veterinários na gestão dos seus dados imagiológicos. Imagine que tem de analisar uma imagem de raio X e está fora do hospital. Em vez de ter de ir ao hospital, pode consultar a informação na plataforma em qualquer parte do mundo. Mas mais: além de poupar tempo e deslocações, poderá consultar imagens previamente escolhidas para comparação com outras patologias. Tem um caso de pneumonia, não tem a certeza e quer pesquisar. Em vez de ir ao Google vai à nossa base de dados e irá aparecer imagem de um tórax de um cão com pneumonia para comparar”.

Depois de a plataforma recolher a informação e de ter casos bem diagnosticados, a ideia passa por fazer um estudo estatístico e arranjar aquilo que se chama de classificador. “Queremos começar a classificar as patologias. A ideia é chegar a um ponto em que tenho uma imagem, clico e o sistema diz-me se identificou algum tipo de doença ou não”. A plataforma reúne dados imagiológicos e bioquímicos. “Em muitas clínicas veterinárias existem muitos dados que são apagados ou que estão simplesmente esquecidos no arquivo, não estão a ser aproveitados. Queremos aproveitar todo o potencial dessa informação, caracterizá-la e tirar proveito dela. Se tivermos essa informação imagiológica e esses dados bioquímicos organizados é possível calcular outras coisas, como dados de epidemiologia, que são importantes”. A ideia de Ricardo Faustino passa por recolher dados não só em Portugal, como a nível global.

Simatix - equipa - Veterinária Atual Fredy Pinheiro, Ana Nunes e Ricardo Faustino constituem a equipa do Simatix

“Hoje em dia muitos médicos veterinários carregam os dados na Dropbox, mas aqui qualquer pessoa pode ter acesso às imagens e visualizá-las”, sendo que a plataforma garante o anonimato dos dados. O que aparece apenas é a informação do diagnóstico. Uma ressalva importante: qual a vantagem, além da parte clínica e gestão de dados? “A oportunidade de pertencer a uma iniciativa global e de ter acesso a outros dados”. A participação dos veterinários neste projeto permite uma “valorização da sua atividade clínica na medida em que serão coautores de estudos desenvolvidos pela Simatix com base na informação retirada e tratada a partir da plataforma”.

Como posso aceder?

Para ter acesso à plataforma é necessário fazer uma inscrição, além de um pagamento anual de 250€. “Como também fazemos consultoria, se os médicos veterinários tiverem dúvidas podem consultar-nos para uma segunda opinião, podemos fazer uma análise mais avançada em termos imagiológicos e fazer um relatório do caso. Não estamos aqui para competir com os veterinários, mas sim para ajudar os ajudar. Por exemplo, quanto uma clínica compra um aparelho de TAC podemos fazer a formação ou ajudar a implementar protocolos e otimizá-los”.

Ricardo Faustino, que desenvolveu o projeto com Fredy Pinheiro, Mestre em  Ciências Aplicadas à Saúde e licenciado em Radiologia, e Ana Nunes, Engenheira Biomédica, está a captar financiamento para desenvolver outras valências do projeto.

Este é um exemplo do que pode ser o trabalho de equipa entre a medicina humana e a medicina veterinária. “Para nós, que somos de imagiologia, olhar para o raio X de um cão, de um gato ou de um humano não muda nada, as características radiográficas da imagem são as mesmas. Depois é uma questão de anatomia e etiologia das doenças. Hoje em dia, a veterinária é fundamental pelas zoonoses que passam para o humano e o trabalho do veterinário nem sempre é valorizado em termos de saúde pública. Acreditamos que teremos mais a ganhar se juntarmos todas as peças do puzzle para resolver problemas de saúde, pois está tudo interligado”.

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